Sob o lema “Repensar o Sector da Saúde em Angola — Cenário Actual e Desafios Futuros”, vários especialistas do sector da saúde privada debateram, nesta terça-feira, numa mesa-redonda, em Luanda, o estado actual e os desafios existentes no sector.
O encontro teve como objectivo principal realizar uma análise aprofundada da saúde privada no país, contando com a contribuição de diversas clínicas e gestores.
Em declarações à imprensa no final do encontro, o secretário-geral das Clínicas Médicas em Angola, José Cunha, sublinhou que a situação actual é de grande dificuldade.
O gestor explicou que o contexto socioeconómico flutuante, marcado pela inflação tem levado as clínicas a um momento delicado, com um aumento significativo nos custos de materiais e medicamentos, o que impacta directamente os preços praticados.
Esta realidade, acrescentou, não tem sido compreendida pelas seguradoras, resultando numa relação menos harmoniosa entre as clínicas e as companhias de seguros.
Além das questões financeiras, José Cunha referiu que uma das maiores dificuldades enfrentadas pelo sector tem a ver com a gestão de recursos humanos, que ainda é insuficiente.
“A gestão dos recursos humanos é e será sempre um problema para nós, visto que o número de médicos, enfermeiros e técnicos de terapêutica no nosso país é extremamente insuficiente para as necessidades que a nossa população tem”, explicou.
Especialistas destacam urgência na digitalização dos serviços
Nesta edição, que foi denominada como “Business & Breakfast Saúde”, os líderes da saúde privada em Angola alertaram, igualmente, para a necessidade urgente de romper com o actual modelo centrado no volume de atendimentos, com vista à digitalização, integração de dados e adopção de novas práticas de gestão, consideradas essenciais para garantir a sobrevivência e inclusão no sector.
“A saúde privada em Angola está a viver um colapso silencioso. Ou mudamos já, ou ficamos para trás”, alertou o consultor da TIS, Edgar Santos.
Apontou que práticas obsoletas têm levado a um aumento insustentável de custos, fragmentação da informação clínica e exclusão de pacientes com doenças crónicas.
A digitalização e a adopção de tecnologias como plataformas em nuvem, prontuários electrónicos e sistemas interoperáveis foram apontadas como soluções estratégicas.
“Estas ferramentas podem gerar economias operacionais de até 25%, dependendo da maturidade digital das instituições e do grau de integração entre sistemas”, acrescentou.
O debate também propôs mudanças na forma de remuneração dos prestadores de saúde, defendendo modelos baseados em valor e resultados clínicos, ao invés da quantidade de procedimentos realizados.
Entre outras recomendações estiveram a centralização de compras, a formação em telemedicina e o uso de análise preventiva para optimizar recursos.
O evento terminou com o compromisso de acelerar pilotos de interoperabilidade em duas redes clínicas, desenvolver indicadores de eficiência e preparar recomendações sectoriais já no terceiro trimestre.
POR: Onésimo Lufuankenda