O sarampo continua a ser um problema persistente de saúde pública na província de Cabinda, afectando já, neste momento, 355 crianças menores, com o registo de cinco mortes de pacientes pela doeça
Segundo o responsável do departamento de Saúde Pública em Cabinda, Gabriel Nionse Zau, o surto de sarampo na província afecta principalmente crianças menores de 5 anos de idade, seguindo ciclos epidérmicos variáveis.
“Nos últimos tempos houve o registo de alguns casos confirmados de sarampo, o que para nós é uma preocupação neste momento”, referiu Gabriel Nionse Zau. Quanto aos 355 casos notificados ao nível da província, o município de Cabinda está no topo com 206 casos, seguido do Buco-Zau com 86, Liambo 17, Belize 14, Cacongo 14, Massábi com 12, Tando-Zinze, 5 casos e o município do Ngoio com apenas um doente. Miconje e Necuto não registaram nenhum caso de sarampo.
Em termos de mortalidade, o município de Buco-Zau registou três mortes, enquanto Cabinda e tiveram um óbito cada município, o que perfaz um total de 5 óbitos. Buco-Zau apresenta uma taxa de letalidade mais alta, na ordem de 7,14, tendo em conta o número de casos e o registo de óbitos, seguido do município de Belize com uma taxa de letalidade 3,49.
Para a confirmação dos casos, de acordo com Gabriel Zau, de Janeiro a Agosto do corrente ano foram enviadas para o Laboratório Nacional em Luanda para efeitos de testes um total de 15 amostras de sarampo colhidas nos municípios de Cabinda, Belize e TandoZinze, sendo todas confirmadas com o diagnóstico positivo.
A idade das crianças mais afectada com sarampo na província de Cabinda varia entre um a cinco anos, sendo 209 casos de pacientes de 1 a 4 anos e três óbitos com a mesma faixa etária.
As estatísticas indicam que o sexo masculino apresenta mais números de casos (302) e os óbitos são do sexo feminino com três casos contra os dois do sexo masculino.
Baixa cobertura vacinal
O responsável da Saúde Pública em Cabinda lamentou que a maioria dos casos registados com sarampo na província são de crianças não vacinadas, apesar de estarem na idade vacinal para protecção.
“Infelizmente, ainda registamos uma baixa cobertura vacinal contra o sarampo nas nossas crianças, fruto da resistência ou rejeição por parte dos pais, influenciados por questões culturais e de ideologias religiosas”, lamentou. Para Gabriel Zau, a vacinação é uma das medidas importantes para a prevenção da doença do sarampo.
“A vacina é eficaz e segura, tem poucos ou quase nulos efeitos adversos e os poucos efeitos que podem ser observados são leves, como a febre, que é bem tolerada e que se pode controlar com medidas antipiréticas”, explicou.
Medidas
Para colmatar a situação do surto de sarampo na província de Cabinda, de acordo com a nossa fonte, foram realizados encontros com as autoridades e responsáveis municipais dos sectores de saúde e saúde pública e técnicos de vigilância epidemiológica para traçar estratégias para o bloqueio da doença.
“O objectivo é explicar a importância sobre a notificação dos casos e também traçar outras estratégias a fim de criar um bloqueio à doença”, declarou Gabriel Zau, acrescentando que foi feito igualmente um rastreio nos livros de registo de doentes para apurar os casos de informação obrigatória notificados e os não reportados.
Outra medida levada a cabo, segundo Gabriel Zau, é a sensibilização dos médicos e outros profissionais de saúde sobre a importância de notificar e fazer o bom diagnóstico e o manejo correcto dos casos, a distribuição de definições de casos, bem como dos casos suspeitos, não só de sarampo como de outras patologias de interesse.
Ressaltou também a realização de visitas aos terapeutas tradicionais com o objectivo de estender a rede de notificações dos casos de sarampo nas comunidades. “O sarampo continua a representar um problema de saúde pública no nosso meio.
É nossa preocupação aumentar a cobertura vacinal e apelamos aos pais ou encarregados de educação no sentido de aderirem às campanhas de vacinação, sendo esta a única medida importante para a prevenção da doença”, ressaltou.
Situação epidemiológica
Gabriel Nionse Zau disse à reportagem do jornal OPAÍS que o perfil epidemiológico da província de Cabinda é dominado por doenças transmissíveis, com o aumento, nos últimos tempos, de doenças crónicas não transmissíveis e de traumas provocados por acidentes de viação e violência. Segundo disse, as doenças crónicas não transmissíveis estão a provocar transição de perfil epidemiológico da província, com uma tendência crescente, com destaque para a hipertensão arterial e as diabetes.
Referiu ainda que a má nutrição crónica afecta principalmente as crianças menores de cinco anos, encontrando-se na base das altas taxas de mortalidade. Revelou que a malária é a patologia que mais afecta a província no período 2024/2025, sendo a principal causa de mortalidade, seguida das doenças respiratórias agudas.
Quanto à rede sanitária da província, disse que houve um crescimento com o aumento de unidades sanitárias com serviços de atenção primária, o que vai melhorar de forma significativa a cobertura vacinal e também a melhoria da assistência primária à população.
Por: Alberto Coelho, em Cabinda