O Tribunal da Comarca do Lubango deu início, nesta segunda-feira, 1 de Setembro, ao julgamento de quatro cidadãos acusados de envolvimento na morte do missionário norte-americano Beau Shroyer, de 45 anos, assassinado em Outubro de 2024 no município da Palanca, província da Huíla
O processo refere que o missionário foi morto a mando da própria esposa, mãe de cinco filhos, que terá pago 10 mil dólares pela consumação do crime.
A vítima deslocava-se, no dia 25 de Outubro de 2024, para atender ao pedido da mulher, alegadamente interessada em ter aulas de condução de viatura mecânica, quando foi surpreendida e assassinada.
No primeiro dia de audiência, foi ouvido o arguido Isaac Elias, apontado como suposto amante da esposa da vítima e acusado de intermediar a contratação de dois outros nacionais para executar o homicídio.
Em tribunal, Isaac Elias negou a existência de qualquer relação amorosa, garantindo apenas ter mantido uma “relação de amizade e de trabalho” com a arguida, para quem prestava serviços de segurança, manutenção de veículos e geradores, trabalhos de serralharia e apoio em actividades solidárias promovidas pelo casal.
O arguido reconheceu ter recebido diversos presentes da esposa do missionário, entre os quais um aparelho de som, utensílios de cozinha, peças de vestuário e electrodomésticos, mas afirmou que tais ofertas eram gestos de gratidão pelo seu trabalho.
Quanto ao montante de 10 mil dólares, admitiu ter recebido, mas sem apresentar explicação clara sobre a origem ou destino do dinheiro. Durante a audiência, o coletivo de três juízes confrontou Isaac Elias com as suas declarações prestadas em fases anteriores do processo, nas quais admitira envolvimento no planeamento do crime.
O arguido alegou que tais confissões teriam sido feitas sob tortura, durante a audiência no Serviço de Investigação Criminal (SIC). Apesar disso, reconheceu em tribunal a sua assinatura nas declarações e confirmou alguns factos já constantes dos autos, o que levou o tribunal a classificar o depoimento como “incongruente”.
O juiz assessor, Irineu Máquina, sublinhou que as contradições de Isaac Elias colocam em causa a sua credibilidade, destacando que as ofertas recebidas da arguida eram conhecidas pelo próprio missionário, embora não haja provas directas de uma relação extraconjugal. Além de Isaac Elias, o tribunal ouvirá os restantes três arguidos, incluindo a esposa do missionário, acusada de ser a mentora do homicídio.
O julgamento deverá prosseguir nos próximos dias com a produção de mais provas testemunhais e documental. O caso abalou profundamente a comunidade missionária e local, não apenas pelo assassinato de um cidadão estrangeiro em missão religiosa, mas também pelo alegado envolvimento de familiares próximos na sua morte.
Por: João Katombela, na Huíla