O governador de Benguela não avança, para já, um horizonte temporal para possíveis mexidas, porém socorre-se de linguagem desportiva para advertir aos seus mais directos colaboradores que “quem não obedecer à disciplina táctica definida, vai ser substituído”. A advertência de Nunes Júnior, feita num encontro que se convencionou chamar de “Café Imprensa”, surge numa altura em que alguns gestores públicos são suspeitos de envolvimento em venda ilegal de terrenos a empresários asiáticos, entre chineses e vietnamitas, para a produção de sal, na Baía-Farta
Há oito meses a exercer o cargo de governador, Manuel Nunes conhecimento suficiente da equipa que lidera em Benguela, porém não a ponto de avançar com mexidas. Até aqui, as exonerações e nomeações operadas foram a pedido de gestores.
Questionado se estava satisfeito com a actual equipa ou ponderava a possibilidade de mexer no aparelho governativo, Nunes Júnior advertiu, num encontro em que, para além de jornalistas e fazedores de opinião, estiveram também todos os membros do Governo, no Palácio, que, para ele, “os jogadores têm de ter disciplina táctica”, a fim de que a estratégia por si definida seja, efectivamente, cumprida.
“Aqueles jogadores que estão em campo, ou que não conhecem a estratégia e não têm disciplina táctica, não podem continuar em campo”, vincou o governante.
O governador de Benguela acentua que a sua estratégia deve ser cumprida rigorosamente, sem nunca perder de vista a disciplina, condição, no seu ponto de vista, «sine qua non» para que as acções da equipa venham a vincar.
Entretanto, para lá dessas condicionantes, Manuel Nunes Júnior espera que os planos ora definidos dêem resultados. “Os jogadores que estiverem na equipa e não corresponderem a esta estratégia, a esta disciplina táctica serão substituídos”, reitera.
O timoneiro do Palácio cor-de-rosa, à praia Morena, não avança, a priori, que se vai substituir esse ou aquele governante, todavia frisou, apegando-se sempre à linguagem desportiva, que se vai ver, ao longo do campeonato, o que é preciso “fazer para que esta equipa seja vencedora. Os arranjos que forem necessários fazer serão feitos”, assegura.
Governador não quer (mais) obras sem placas
Uma das críticas que tem sido feitas constantemente ao Governo Provincial de Benguela se prende com o facto de algumas obras, com destaque para as constantes no pacote emergencial, avaliadas em 415 milhões de euros, não disporem de placas descritivas com informações relativas ao empreiteiro, dono da obra e orçamentos.
O governador Manuel Nunes Júnior também reprova esse modelo, com o argumento de que a lei exige que se prestem tais informações ao cidadão. “É uma norma e deve ser usada em todas as obras públicas”, salientou.
Nesta perspectiva, na qualidade de servidores públicos e, por conseguinte, cumpridores das normas – refere – do ravante, o Governo de Benguela compromete-se a cumprir, a fim de que às pessoas se lhes prestem informações inerentes às empreitadas. “Não há razões para que tenhamos que ter uma situação em que não há placas nas obras”, considera.
Reunião com Omunga versus suspensão de marcha
Manuel Nunes Júnior foi acusado de ter travado a marcha da Omunga, que visava protestar contra a falta de iluminação pública na via Lobito/Benguela, uma situação que tem causado muitas mortes.
No entanto, a Omunga e o governador andam de mãos dadas, admitindo que terá imperado o bom senso. “Foi importante para criar entre nós uma relação de confiança”, disse Nunes Júnior.
O governante diz ter tido uma reunião muito útil com as organizações da sociedade civil, na qual foi manifestada abertura para o diálogo, sendo que, em relação à preocupação da iluminação pública no troço Benguela/Lobito, o Governo se compromete, nos próximos tempos, a intervir.
“O concurso vai ser lançado, as obras vão iniciar, ainda este ano, para a iluminação naquele troço. Isso foi explicado às organizações que estiveram connosco”, declarou.
Aberta investigação para aferir envolvimento de gestores
Informações colhidas por este jornal apontam para o envolvimento de alguns dirigentes na venda ilegal de terreno a cidadãos asiáticos, entre chineses e vietnamitas, na Baía-Farta, destinado à produção de sal.
Este facto acabou, inclusive, por desvirtuar o Plano Director Municipal – admitiram fontes da Administração Local. Entretanto, questionado pelo jornal O PAÍS se estava ou não a par do que acontece na Baía-Farta, o governador afirmou apenas estar em curso uma investigação por uma comissão, na qual integram também empresários, para aferir o que está a acontecer no município.
Ele promete apresentar publicamente os resultados e responsabilizar os infractores. “Os resultados não vão ficar dentro das paredes do palácio. Vão ser conhecidos”, promete.
O mote da investigação foram as denúncias de que chineses estariam a produzir sal em zonas inapropriadas, como em cemitérios. Recentemente, o administrador da Baia-Farta, Evaristo Calopa Mário, admitiu a necessidade de se organizar o sector salineiro no município sob sua jurisdição.
Por: Constantino Eduardo, em Benguela