A disputa judicial pela posse da fábrica metalúrgica FEXIANG, em Viana, conheceu um novo episódio esta semana, com o aparecimento de uma carta anónima deixada no carro do funcionário administrativo Jeremias Segunda. O documento, redigido de forma ameaçadora, denuncia o alegado recrutamento de um juiz do Tribunal da Relação de Luanda com o objectivo de influenciar a futura decisão da juíza conselheira da Câmara do Cível do Tribunal Supremo, no recurso interposto pelo ex-inquilino Qi Xu.
O bilhete, escrito de forma anónima e atribuído a supostos “capangas” ligados ao ex-arrendatário da fábrica, traz mensagens intimidatórias dirigidas a Jeremias Segunda, afirmando que este “vai passar mal” por continuar a defender o proprietário da unidade, o também cidadão chinês Benxiang Jiang. O texto reforça ainda que “esta luta é entre chineses” e que “o boss já controlou a Relação e o Supremo”.
Na carta, além de ameaças directas, é mencionado o nome de um suposto magistrado, citado como “Carlão Salamango”, juntamente com um advogados e um oficial superior, cujas identidades não foram reveladas, insinuando que Qi Xu teria recorrido à corrupção para garantir que futuras decisões judiciais o favoreçam. “O Qi Xu tem malas de massa pra toda gente”, lê-se num dos trechos, sugerindo a utilização de subornos para manipular o curso do processo, com a alegada ajuda de uma juíza conselheira da Câmara do Cível Tribunal Supremo.
Segundo a direcção da FEXIANG, esta é apenas a mais recente tentativa de intimidação contra os representantes da empresa, que desde a execução da sentença a favor de Benxiang Jiang, em Setembro do ano passado, têm denunciado pressões, ameaças e manobras extrajudiciais de Qi Xu para recuperar o imóvel.
A direcção-geral da fábrica confirma a autenticidade da carta e afirma que o documento será anexado às queixas já apresentadas ao Conselho Superior da Magistratura Judicial, ao Tribunal Supremo, à Procuradoria-Geral da República e a outros órgãos de soberania.
Apesar das ameaças, a direcção da FEXIANG garante que manterá a confiança no sistema judicial angolano, elogiando a postura do juiz da 1ª Secção Cível da Comarca de Luanda, que conduziu o processo com firmeza e legalidade. Entretanto, reforça o apelo às autoridades competentes para investigarem o caso, assegurarem a integridade das decisões judiciais e protegerem a segurança de todos os envolvidos.
A escalada de intimidações mostra que o litígio entre os dois empresários chineses ultrapassou os limites legais e começa a expor fragilidades do sistema judicial, num processo marcado por denúncias de corrupção, abuso de poder e ameaças de violência.
Funcionário da GCC Steel sai em defesa de Qi Xu
Em reacção às acusações, Adão Lourenço, mais conhecido por Maya, rejeitou veementemente qualquer envolvimento em alegadas ameaças ao cidadão Jeremias.
“Eu conheço o Jeremias, aliás, somos amigos. Para ser sincero, não conheço a proveniência deste documento, nunca vi. Nunca fiz ameaças ao senhor Jeremias e gostaria de estar frente a frente com ele para me dizer isso na minha cara”, afirmou.
Maya esclareceu ainda que é funcionário da GCC Steel, empresa pertencente ao empresário Qi Xu, alegado “verdadeiro dono da fábrica”, sublinhando que desconhece a origem de muitos dos conflitos entre os empresários chineses envolvidos no litígio.
“Não tenho muitas informações. Aliás, você sabe que os chineses são corruptos. Pode escrever o que eu digo, mas o senhor Qi Xu nunca foi chamado para ser ouvido em tribunal, como é que eles dizem que venceram a causa?”, questionou.
Instado a pronunciar-se sobre alegações de corrupção envolvendo o seu patrão, Maya e magistrados do Tribunal da Relação de Luanda, admitiu ser “possível que sim”, reforçando a ideia de que, “sendo empresário, o senhor Qi Xu não poderia ver o seu património ser-lhe retirado daquela forma”.
- Benxiang Jiang, proprietário legítimo da fábrica.

- Jeremias Segunda, funcionário da Feixang que tem sofrido as ameaças.

- Qi Xu, o acusado de perturbar o normal funcionamento da fábrica.
