As primícias deste dia 15 de Setembro de 2025, não foram portadoras de bons ventos, pelo contrário, trouxeram a nós a intragável notícia, que, por mais que nos tenhamos preparados para o pior, face às cíclicas complicações do seu quadro de saúde, nos transportou para um prolongado e sentido solilóquio, devido à passagem do Dr. Paulo Tjipilica para o lugar dos ungidos.
Ao mesmo tempo que desconseguimos conter as lágrimas atrevidas que nos rasgam o rosto, disfarçar a voz embargada pela vontade de nada dizer e dar ânimo ao pensamento tolhido para as tarefas laborais de jornada, tentaremos partilhar pedaços do conhecimento que temos de Paulo Tjipilica, decorrentes de punhados de anos de convivência, à pala da instituição Provedoria de Justiça.
Em boa verdade, há um conhecimento que é prévio ao seu de tempo de Ombudsman angolano, pois, como muitos, aprendemos a parar, ouvir, sorrir e anotar sempre que o político Paulo Tjipilica, emergisse em algum órgão de comunicação social a debitar ideias, a emitir declarações sobre diversos assuntos.
É que rapidamente descobrimos um eminente e raro, entre nós, cultor da língua portuguesa, era tão rica a sua verve, apesar de vezes sem conta nos complicar, ainda mais a compreensão, por culpa dos latinismos com que filigranava as suas verbalizações! Já no quadro do nosso encontro de caminhos, nós enquanto técnicos da Provedoria de Justiça e ele como Primeiro Provedor de Justiça de Angola (2005-2017), foi a oportunidade, congeminada pelo destino, que nos permitiu receber orientações, interagir na voz activa e discurso directo, obter aprendizados diários e conhecer um pouco do ser humano, por trás do linguajar castiço e do fino traço na apresentação. Afinal, estávamos diante de uma biblioteca viva no saber técnico genérico, nas específicas minudências do Direito e na cultura geral!
Foi-se um exímio contador de estórias, contendo lições para a vida, embora sempre em ambiente de paródia! Foi-se um fazedor de história, pois onde passou como quadro, desde Angola colonial até Angola independente, passando pelas actividades que desenvolveu na própria metrópole e na assessoria a Governos de Portugal, deixou o seu sinete de elegância verbal e social!
Foi-se o adepto do Futebol Clube do Porto, que exaltava como ninguém os jogos que vivenciou no Estádio das Antas! Foi-se o cristão abnegado, que não dispensava os cultos, com predilecção para a Igreja Metodista, devido, confessou, à força melódica inexplicável, que ele associava aos seus cânticos! Foi-se o condutor de homens e mulheres como Ministro da Justiça e Provedor de Justiça, cujos benefícios são ainda sentidos (que o digam os Magistrados) e cujo legado simbólico será perene na mente e realizações do pessoal da Provedoria de Justiça!
Foi-se um afectuoso bonus pater familiae e um tremendo líder familiar! Enfim, foi-se o amigo dos seus amigos, independente da condição social! Pode acreditar, Dr. Paulo Tjipilica, os teus ensinamentos e valores de humanidade jamais serão esquecidos, faremos questão de os perpetuar em todos os nossos espaços sociais de interacção e intervenção, até que chegue o momento do nosso inevitável reencontro! Ao Dr. Paulo Tjipilica, podemos, sem tibiezas, dizer Requiescat in Pacem! À Família enlutada, dizemos Estamos Juntos!
Por: FREDERICO BATALHA