Angola é um país abençoado no que respeita ao paisagismo, designadamente pelos seus encantos naturais e pelos diferentes sítios de interesse histórico e museológico que resultam da sua história recente. No entanto, não damos o devido valor aos nossos locais, tampouco cultivamos uma sociedade de consumo das nossas próprias riquezas ligadas à potenciação do turismo e à tão propalada diversificação da economia.
O consumo do turismo não está apenas associado ao lazer ou, se tanto, ao ócio. Basta ver que o nosso Estado atribui importância ao sector, dispondo de uma pasta ministerial encarregada de tratar desses assuntos, dada a relevância que o mesmo encerra.
Ora, temos um turismo opaco, porquanto valorizamos menos o que é nosso para dar maior importância ao que é dos outros. Não que não devamos apreciar o que existe além-fronteiras, mas porque tendemos a considerar que o que vem de fora é melhor e mais realista.
Esta reflexão surge na sequência da apresentação, nesta semana, do projecto Raízes Reconectadas — Unindo a Herança Angolana nas Américas, um investimento de 12 milhões de dólares norte-americanos que visa a requalificação completa do Forte de Massangano, no Cuanza Norte, reforçando a sua importância como património cultural nacional, numa altura em que celebramos amanhã o Dia Mundial do Turismo.
Assim sendo, os locais turísticos não estão reservados exclusivamente a estrangeiros, como temos vindo a assistir. Eles contam e regozijamo-nos quando somos visitados; ademais, a hospitalidade é uma característica intrínseca do povo angolano. Porém, da mesma forma que os visitantes estrangeiros, além de apreciarem a beleza dos encantos naturais, procuram conhecer o passado histórico e cultural de Angola — uma herança colonial que marcou o nosso percurso em várias etapas —, também os cidadãos nacionais devem fazê-lo, à semelhança do que acontece noutras paragens do mundo. São os cidadãos locais que mais procuram conhecer a sua própria história.
Os espaços turísticos, em diferentes países, são frequentados maioritariamente pelos nacionais, ao contrário do que sucede connosco, onde predomina a presença de estrangeiros, sobretudo no período de verão. Na maior parte do tempo, os espaços estão praticamente às “moscas”, porque não os procuramos com a frequência devida.
Temos como exemplos o Pão de Açúcar, no Brasil; o Mosteiro dos Jerónimos, em Portugal; a Praça de São Pedro, na Itália; Waterberg Plateau Park na Namíbia; a Torre Effel na França; a Grande Muralha, o Palácio Imperial de Xianyang e o Templo de Confúcio, na China; Museu do Apartheid na África do Sul — locais onde se cruzam várias culturas, mas com maior predominância de cidadãos nacionais.
O inverso ocorre em Angola: museus de Luanda, da Lunda Norte ou da Huíla, bem como as nossas maravilhas naturais, são visitados maioritariamente por estrangeiros. Isso é legítimo, mas, enquanto povo soberano, temos de ser nós próprios a valorizar e a contar as nossas histórias.
Que este Dia Mundial do Turismo sirva de reflexão para todos nós, cidadãos angolanos. Devemos cultivar, valorizar e consumir os nossos produtos turísticos — um hábito que deve nascer desde a base, isto é, nas escolas primárias.
Como escreveu o colega e amigo Geovany António: “Educação nunca foi despesa. Sempre foi investimento com retorno garantido.” Acrescento apenas: um cidadão instruído compreende melhor as adversidades e sabe como ultrapassá-las.