Apesar de os EUA terem registado nos últimos anos um crescimento firme, as tarifas comerciais impostas pela administração Donald Trump a muitos países, com destaque para a China, Canadá e México, almejando o equilíbrio das contas públicas e a redução do déficit fiscal norte-americano, acarretam um elevado nível de incerteza para a economia do país nos próximos meses, uma vez que podem gerar incerteza em relação ao ambiente inflacionário e ao crescimento da actividade económica.
Após verificar-se um arrefecimento dos principais indicadores económicos do país (com destaque para a previsão do FED de Atlanta de uma contração do PIB em 2,4% no primeiro trimestre de 2025, em termos anualizados, em resposta a expectativas negativas sobre as suas exportações) e a afirmação de Trump sobre os EUA estarem a passar por um “período de transição”.
A possibilidade de um cenário de recessão nos EUA levou a um recuo dos mercados globais, apesar da existência de temores e não de sinais concretos. Entendemos que, não obstante os sinais apontarem para a perda de fôlego da economia norte-americana, é ainda bastante precipitado apontar para riscos de recessão.
O actual cenário geopolítico e macroeconómico internacional leva-nos a reflectir sobre muitas questões, merecendo destaque entre elas a teoria do “Dollar Smile”, desenvolvida pelo economista Stephen Jen (ex-estratega do Morgan Stanley) e descreve como o dólar se valoriza tanto em momentos de força económica dos EUA quanto em períodos de crise global.
O conceito se baseia na observação de que o dólar segue um formato em “U” invertido quando analisado em diferentes contextos económicos. De acordo com a teoria do “Dollar Smile”, o comportamento do dólar norte-americano é descrito por três principais cenários.
A começar pelo primeiro, ligado ao fortalecimento do dólar norte-americano devido à aversão ao risco. A primeira parte do sorriso mostra o dólar americano se beneficiando da aversão ao risco, o que faz os investidores fugirem para moedas consideradas “porto seguro” como o dólar americano e o iene japonês.
Uma vez que a percepção dos investidores assinale de que a situação económica global é consideravelmente instável, pelo que os mesmos hesitam em investir em activos de maior risco e preferem a compra de activos “mais seguros” como é o caso dos “Títulos do Tesouro dos EUA”, independentemente da situação económica dos norte-americanos.
Todavia, para a compra de títulos do Tesouro americano, o investidor precisa de dólares, logo esse consequente aumento na procura do dólar acabará por fortalecer a moeda americana. Durante as crises económica/ financeiras globais, os investidores foram à busca de activos de refúgio.
O dólar americano foi considerado uma moeda de refúgio devido à sua estabilidade e liquidez. Como resultado, a procura pelo dólar aumentou, provocando a sua valorização.
No entanto, os investidores transferiram o seu capital para os títulos do Tesouro dos Estados Unidos da América, assumindo serem investimentos de baixo risco, o que aumenta ainda mais o valor do dólar.
Quanto ao segundo cenário, a queda do dólar norte-americano para um novo mínimo devido à economia fraca é reflectido pela parte inferior do sorriso, na medida em que a economia dos EUA se debate com a fraqueza dos fundamentos económicos.
A possibilidade de cortes nas taxas de juros também pressiona o dólar americano (o possível impacto do corte das taxas de juros de outros países pode ser um factor irrelevante, à medida que tudo depende das expectativas referentes à direcção futura dos diferenciais das taxas de juros), afasta o mercado do dólar e o lema passa a ser “Vender! Vender! Vender!” Um outro factor consiste na diferença entre o desempenho económico dos EUA e o de outros países.
Ainda que a economia americana não registe uma evolução necessariamente ruim, mas se registar um crescimento mais fraco do que o de outros países, os investidores terão preferência em se desfazer do dólar americano e adquirir a moeda do país economicamente mais forte. Assim, à medida que a economia começa a se recuperar, mas permanece fraca, o dólar normalmente se desvaloriza.
Durante essa fase, o apetite ao risco retorna e os investidores começam a buscar retornos maiores em activos e mercados de maior risco fora dos EUA. Por isso, os bancos centrais, incluindo o Fed, podem optar pela manutenção das taxas de juros em baixo para estimular o crescimento económico, podendo levar a um dólar mais fraco neste processo.
Para o efeito, o último cenário revela o crescimento económico (lado direito do sorriso), sendo que o optimismo aumenta e surgem sinais de recuperação económica, sentimento relativamente ligado ao dólar americano que começa a melhorar.
Dito de outro modo, à medida que a economia dos EUA regista um nível de crescimento económico mais forte e um aumento das expectativas de taxas de juro face a outros países, o dólar começa a se valorizar. Perante um forte ambiente económico, a economia dos EUA supera as demais, levando ao aumento do investimento em activos americanos.
Isto visa evitar o superaquecimento da economia, no sentido de atrair mais capital estrangeiro e provocar a valorização do dólar, e o Fed pode aumentar as taxas de juros.
O optimismo em relação à economia dos EUA aumenta com a procura por dólar. No entanto, será verdadeira a Teoria do Sorriso do Dólar. Será verdadeira? Somente o tempo será capaz de provar. Pois, todas as economias são cíclicas. Ou seja, registam períodos de fortalecimento seguidos de períodos de enfraquecimento, e, assim, sucessivamente.
Por: WILSON NEVES