Recentemente, o mundo parou com a notícia de dois colegas de trabalho que, fora das suas funções e local de trabalho, foram flagrados por câmera registrada em um ambiente íntimo.
No entanto, o que chocou o mundo foi o facto de os mesmos terem cargos de chefia na instituição em que trabalham e ambos serem casados com pessoas distintas.
Mas afinal, qual seria o impacto de um romance no local de trabalho? O local de trabalho, sendo um espaço onde passamos grande parte do nosso tempo, acaba, naturalmente, por se tornar palco de laços que ultrapassam o mero profissionalismo.
É neste ambiente que muitas vezes nascem amizades sinceras, cumplicidades e, não raras vezes, relações amorosas. No entanto, quando o amor floresce dentro de empresas e instituições, impõem-se questões delicadas: quais os limites éticos, legais e profissionais do romance no emprego? Quando o Coração Entra no Escritório Embora o amor não obedeça a regras, o mesmo não se pode dizer das organizações. Num cenário laboral, um relacionamento amoroso pode representar tanto uma fonte de motivação como um potencial foco de conflito
. Quando dois colegas desenvolvem um vínculo afectivo, o impacto pode ser positivo — desde que haja maturidade emocional, discrição e respeito mútuo. Contudo, nem sempre é assim.
Problemas surgem quando o relacionamento interfere na produtividade, alimenta favoritismos, estimula conflitos ou coloca em causa a neutralidade das chefias. Situações de maior preocupação envolvem relações entre superiores e subordinados, que podem dar lugar a alegações de assédio ou abuso de poder, especialmente se a relação termina mal.
O Que Diz a Lei? Em Angola, a Lei Geral do Trabalho (Lei n.º 12/23) não proíbe expressamente os relacionamentos no local de trabalho. Contudo, protege os trabalhadores contra qualquer forma de assédio moral ou sexual, discriminação ou violação da dignidade no ambiente profissional.
Assim, se um relacionamento evoluir para um cenário em que uma das partes se sente coagida, desrespeitada ou prejudicada, o caso pode ser enquadrado legalmente como uma infracção laboral grave, sujeita a sanções e, eventualmente, a uma acção judicial.
As Empresas Devem Intervir? Sim, mas com equilíbrio. O ideal é que as empresas adoptem uma política interna clara sobre relacionamentos no local de trabalho. Esta política não deve ser repressiva, mas sim educativa e preventiva, promovendo o respeito, a transparência e a ética no ambiente laboral.
Uma direcção de recursos humanos diligente pode sugerir que relações entre colegas sejam comunicadas, especialmente quando envolvem posições hierárquicas distintas, garantindo que não haja conflito de interesses.
Por outro lado, é essencial que os profissionais saibam separar a vida pessoal da vida profissional, mantendo a discrição e evitando comportamentos impróprios durante o expediente.
Reflexão Final O romance no emprego não deve ser encarado como tabu, mas como uma realidade que exige maturidade, responsabilidade e regras claras. O amor é humano — e os ambientes de trabalho, também. Cabe a cada profissional, e a cada empresa, encontrar o equilíbrio entre os sentimentos e a ética, para que nem o coração nem a carreira fiquem comprometidos.
Por: Yona Soares
Advogada e Gestora de Recursos Humanos