O início de um novo trimestre lectivo deveria representar um momento de renovação de expectativas, de reencontro com colegas e professores e de retoma do ritmo escolar. Contudo, a realidade em muitas escolas públicas, público-privadas e privadas do país tem sido marcada por um fenómeno preocupante: a ausência significativa de alunos nas salas de aula durante a primeira semana após as férias.
Embora o calendário escolar esteja devidamente definido, e os períodos de férias sejam claros para todos os intervenientes do processo educativo, verifica-se uma espécie de “prolongamento informal” do descanso por parte de muitos alunos.
Este comportamento, cada vez mais recorrente, tem consequências sérias no aproveitamento escolar e no próprio desenvolvimento emocional dos estudantes. Infelizmente, muitos encarregados de educação, sobretudo os que têm filhos no ensino primário, acabam por contribuir – muitas vezes inconscientemente – para esta situação.
Em vez de promoverem a pontualidade e a assiduidade, optam por manter os filhos em casa durante os primeiros dias de aulas, alegando diferentes justificações. Alguns nem sequer questionam a permanência dos educandos em casa, mesmo quando sabem que o período lectivo já teve início.
Esta atitude transmite uma mensagem errada sobre o compromisso com os estudos e desvaloriza o papel da escola. Do lado dos professores, também se observam comportamentos que não favorecem a valorização da primeira semana de aulas. Muitos limitam-se a repetir actividades como entrega e correção de provas ou conversas informais sobre as férias.
Em certos casos, há até docentes que se ausentam, agravando o desinteresse e a desmotivação dos alunos. Torna-se, assim, urgente repensar esta fase inicial de cada trimestre.
A ausência nos primeiros dias de aula pode parecer inofensiva, mas os seus impactos são profundos. Os alunos perdem o fio condutor do conteúdo programático, fragilizam os seus hábitos de estudo e acumulam lacunas que, mais tarde, se refletem em baixo rendimento académico. Em casos extremos, essa ausência pode desencadear um processo de evasão escolar.
O papel dos pais e encarregados de educação é, por isso, crucial. Preparar os educandos para o regresso às aulas não se resume à compra de material escolar. É necessário reajustar rotinas, conversar sobre a importância da escola, demonstrar interesse pelas actividades escolares e, acima de tudo, incentivar uma atitude positiva face à aprendizagem.
Igualmente, os professores devem encarar a primeira semana de aulas como uma oportunidade estratégica para reencantar os alunos com o processo educativo. É essencial que planifiquem actividades mais inclusivas, interactivas e criativas, capazes de gerar entusiasmo e expectativas nos estudantes. A monotonia e a repetição devem dar lugar à inovação e ao acolhimento.
O regresso às aulas é um momento-chave que exige uma acção coordenada e responsável por parte de toda a comunidade educativa. Quando professores e encarregados de educação actuam em sintonia, preparando os alunos emocional e psicologicamente, a transição torna-se mais leve, estimulante e produtiva.
Um ambiente escolar acolhedor, dinâmico e motivador desde os primeiros dias pode reacender – ou até salvar – a chama da aprendizagem. Ignorar a importância desta fase é comprometer, silenciosamente, o sucesso escolar de milhares de crianças e jovens. E esse é um preço que a nossa sociedade não pode continuar a pagar.
Por: LUDIJÚNIOR DIAS