Há silêncios que protegem. Outros, comprometem. E há ainda os que custam caro — silenciam o País, mas amplificam o barulho dos que o querem ver de joelhos. Nos últimos tempos, Angola tem falado pouco.
Ou pior: tem falado tarde, mal ou por reacção. E, como sabemos, quem não fala por si, será sempre falado pelos outros. Vivemos numa era em que o silêncio institucional não é apenas omissão: é renúncia de autoridade. Enquanto os gabinetes hesitam, as redes constroem narrativas — muitas vezes falsas, outras tantas cruéis, mas quase sempre eficazes.
A pergunta que urge fazer, com coragem e sentido de Estado, é esta: quem está, de facto, a falar por Angola?
Será o jovem que ergue o telemóvel numa live, no meio do lixo e da indignação? Será o influenciador que dança e comenta mais do que lê? Será o estrangeiro que escreve sobre nós sem nunca ter posto os pés no Cazenga, no Chinguar ou no Tomboco?
Ou será o silêncio cúmplice de quem, podendo, escolhe não comunicar?
Angola precisa de recuperar a sua voz. Não falo de discursos vazios ou slogans de ocasião. Falo de uma voz que eduque, que inspire, que informe e que mobilize. Uma voz que una Cabinda ao Cunene com propósito. Uma voz que diga, com clareza: estamos aqui, temos rumo, temos coragem.
Em Fevereiro deste ano, o Ministério da Juventude e Desportos completou 36 anos. Em vez de celebrações vãs, optou-se por comunicar entregas: reinaugurações de infra-estruturas, formação de monitores, expansão de programas e a aposta forte na comunicação humanizada. Foi um sinal claro de que o tempo da propaganda cega está a ser substituído por uma comunicação que serve ao povo, não ao ego.
Mas não chega um ministério. Nem dois. Angola precisa de uma nova arquitectura de comunicação pública. Profissional, estratégica, inclusiva e nacional. Um sistema que fale ao coração dos jovens e também à razão dos mais velhos.
Que valorize os técnicos e capacite os porta-vozes. Que fale de Angola com a mesma beleza com que se fala da filha, da mãe ou da terra natal. Porque Angola não é só uma Nação. É uma narrativa. E se não a contarmos com verdade, outros a contarão com distorção.
Olhemos à nossa volta. Em países como o Ruanda, o Brasil ou os Emirados, a comunicação tornou-se pilar do desenvolvimento nacional. Em Angola, ainda se vê quem subestime a força de uma boa narrativa.
Mas a história mostra-nos que as grandes viradas — políticas, económicas ou culturais — começam sempre com uma ideia bem dita, no tempo certo. E talvez esse tempo seja agora.
Afinal, o jovem que limpa o chão na Samba, o agente da polícia em Menongue, a estudante do Namibe ou o jornalista do Huambo também têm perguntas. Também querem respostas. Também têm direito a um Estado que saiba explicar, ouvir e partilhar.
E não apenas mandar. O País que se cala, perde-se. Mas o País que comunica, constrói-se. Que este seja o tempo em que Angola volte a falar com os seus. E que, entre o Líder Político e o jovem que limpa carros na rua, se construa um novo pacto de verdade, voz e visão.
Por: EDGAR LEANDRO
Porque se há uma coisa que aprendi — sob olhar atento e espírito livre — é que: ninguém ama o que não compreende. E ninguém compreende o que não se comunica