Há datas que não são apenas dias no calendário. São como o bater do ngoma numa aldeia antiga: não chamam apenas para a festa, chamam para a consciência. Sexta-feira, 21 de Novembro, é uma dessas datas. Não pelo que aconteceu, mas pelo que nos obriga a pensar. Angola está hoje como o rio Kwanza na transição entre a nascente e o mar: carrega a memória da montanha, mas já antevê o horizonte vasto do oceano.
Não é mais apenas um País que resiste. É uma Nação que começa a escolher quem quer ser. Num mundo dominado pelo ruído, pela pressa e pelo espectáculo superficial, pensar tornou-se um acto revolucionário. Reflectir é hoje o novo heroísmo silencioso.
Tal como o camponês do Planalto Central que semeia confiando no tempo da terra, mesmo sem garantia da chuva, também a Nação que reflecte semeia futuro. Durante décadas, Angola aprendeu a levantar-se como o imbondeiro depois da tempestade — ferido, mas firme; marcado, mas vivo.
Agora, o desafio é outro: deixar de viver apenas da sobrevivência e iniciar o ciclo da excelência. Não basta extrair petróleo do subsolo se não cultivarmos inteligência na superfície. Não basta erguer edifícios se não elevarmos consciência. Não basta celebrar feitos se não transformarmos esses feitos em sistema, cultura e direcção. A juventude angolana não quer apenas ser lembrada. Quer ser protagonista.
Quer ser como o prato de muamba bem temperado que leva tempo, cuidado e arte — mas que se transforma em identidade. Quer ser como o semba que atravessa gerações, reinventando-se sem perder a alma. E é aqui que Angola se encontra: Entre o batuque do passado e a sinfonia do futuro. Entre o mastro da memória e a vela da visão. Quando o mundo nos observa, procura sinais. Sinais de maturidade.
Sinais de rumo. Sinais de que compreendemos que uma Nação não se constrói apenas com discursos, mas com decisões silenciosas que moldam gerações. As grandes Nações não são aquelas que gritam mais alto, mas as que sabem quando falar, quando calar e quando construir. São aquelas que, tal como o pescador da Ilha do Mussulo, conhecem o tempo da maré e respeitam o ritmo do oceano.
Angola está nesse momento raro:
O momento em que uma Nação deixa de correr atrás do tempo e passa a caminhar com ele. E quando uma Nação encontra o que verdadeiramente importa, deixa de ser paisagem — tornase referência. Deixa de ser promessa — torna-se direcção. Deixa de ser esperança — torna-se exemplo. Porque o verdadeiro poder não está na força que se impõe, mas na visão que inspira.
E a visão é o novo ouro das Nações que querem permanecer. Hoje, 21 de Novembro, não celebramos apenas o que somos. Reafirmamos o que escolhemos ser. Uma Angola que pensa. Uma Angola que amadurece. Uma Angola que decide. E quando uma Nação decide, já ninguém a detém.
POR: Edgar Leandro









