Na vida, há quem resolva problemas com uma agilidade impressionante. Quando surgem crises familiares, surgem soluções. Quando o dinheiro falta, dá-se um jeito. Quando a saúde vacila, aparece uma resposta, uma força escondida.
É como se diante das dificuldades, muitos de nós entrássemos num modo “resolver”. Corremos atrás, movimentamonos, enfrentamos. Mas há uma zona, aparentemente menos urgente, onde essa força já não se apresenta com a mesma intensidade: os nossos sonhos. Sonhos que vão sendo adiados. Guardados para “quando der”.
Silenciados, muitas vezes, com desculpas bem elaboradas: falta de tempo, de dinheiro, de apoio. Mas será mesmo falta disso tudo… ou seria medo? Recentemente, li um artigo da Professora Fátima Sampaio Fernandes com um título provocador: “Pare de ter medo de ter dinheiro na sua conta.”
A certa altura, ela explica como há pessoas que, inconscientemente, fazem de tudo para se livrar do dinheiro. Gente que aumenta a renda… mas aumenta as dívidas na mesma proporção. Gente que só se sente confortável quando está em falta — porque a abundância, por incrível que pareça, assusta.
É um comportamento mais comum do que se pensa. Basta ver o que acontece com a tradicional kixikila — aquele sistema solidário de contribuição entre um grupo de pessoas, onde cada mês uma delas recebe o montante total.
Mesmo sabendo que receber por último pode ser economicamente desfavorável, mui-tos preferem assim. E a justificação é recorrente: “Se o dinheiro estiver comigo, aparecem sempre preocupações… prefiro saber que, um dia, recebo o valor completo e faço logo alguma coisa.”
Não estamos a falar aqui de finanças. Estamos a falar de emoções. De como, muitas vezes, o problema não é o que temos ou deixamos de ter, mas co-mo lidamos com aquilo que temos. E isso não se aplica apenas ao dinheiro. Funciona da mesma forma com os sonhos.
Quer ver? Pense nos problemas emocionais que já enfrentou. Brigas familiares, perdas, frustrações, mágoas. Quantas vezes conseguiu levantar-se, limpar as lágrimas e seguir em frente? Arranjou força, apoio, estratégias.
Teve energia para lidar com a dor. Mas agora pense em alguns dos seus sonhos. Aquele curso que queria fazer. Aquele livro que queria escrever. A mudança de carreira, o recomeço numa nova cidade, o desejo de ter um corpo mais saudável, uma relação mais equilibrada, uma vida mais significativa.
Por que é que, nesses casos, a força parece esvair-se? Por que é que, de repente, o “resolver” dá lugar ao “deixa estar”? O medo de falhar. O medo de não ser suficiente.
O medo de sair da zona de conforto. Tudo isso nos trava, não diante da dor, mas diante da possibilidade de sucesso. Porque, sejamos honestos, realizar um sonho exige mais do que força: exige responsabilidade.
Sonhar, no papel, é seguro. Mas realizar exige compromisso, risco, entrega. E há quem prefira viver a vida como quem apaga incêndios, sempre ocupado, sempre em movimento, mas sem tempo (nem coragem) para construir o que verdadeiramente deseja.
A reflexão que deixo hoje é esta: Será que você tem sido valente para os problemas e covarde para os sonhos? Será que tem adiado aquilo que daria cor e sentido à sua vida, enquanto resolve, com competência, as urgências dos outros? Que Deus nos conceda coragem para viver, não só para sobreviver. Que os sonhos deixem de ser paisagens longínquas e passem a ser trilhos possíveis.
E que, tal como enfrentamos os problemas com firmeza, possamos também lutar pelos nossos desejos com fé, acção e propósito. Receba o carinhoso e apertado abraço e a promessa de voltar para mais partilhas matinais. N’gassakidila
Por: LÍDIO CÂNDIDO “VALDY”









