O futebol angolano, esse nosso campo de paixões e controvérsias, volta a viver um momento tenso fora das quatro linhas. Já é do domínio público o desentendimento entre a Federação Angolana de Futebol, FAF, e o seu director técnico nacional, Miller Gomes.
E como em todo bom jogo, há argumentos de um lado, posicionamentos do outro e um resultado que ainda não está decidido. Miller Gomes não é um nome qualquer. É, sem exagero, um dos melhores técnicos da sua geração.
Homem que conhece o terreno da formação como poucos, que carrega no seu currículo a marca de ter contribuído para o surgimento de dezenas de treinadores de nível C e B, que hoje trabalham por este país fora.
Um património humano do nosso futebol. Mas, como na vida, também no desporto há tropeços, arestas, mal-entendidos. Nada de novo. O que não pode haver é a perda de visão estratégica.
A direcção da FAF, liderada por Alves Simões, tem todo o direito e a responsabilidade de tomar decisões, de escolher os caminhos que julga melhores para o futebol nacional.
Mas o verdadeiro talento da liderança está em saber aproveitar os recursos humanos que já provaram o seu valor. Por outro lado, há que respeitar também a autonomia da direcção da FAF.
Toda instituição séria deve ter liberdade de reavaliar caminhos, reformular funções, alinhar estratégias. Isso faz parte de qualquer ciclo de gestão. Por isso, deixo aqui um apelo sincero: que as partes dialoguem.
Que se encontrem num ponto comum onde não haja vencidos, mas sim vencedores e o maior deles, o futebol angolano. Se Miller Gomes já não deve continuar como director técnico nacional, que se pense em outro espaço dentro da FAF onde a sua experiência e competência possam continuar a render frutos. E que se nomeie um novo responsável técnico nacional com a mesma seriedade e mérito.
Em minha modesta opinião, esta situação deverá ser resolvida já. A Direcção da federação de futebol, soberana que é, tem que assumir o seu papel desde que já tenha em carteira os prováveis substitutos para o referido cargo.
Num país onde, convenhamos, escasseiam quadros verdadeiramente comprometidos com o futebol, não podemos continuar a desperdiçar talentos com base em desencontros administrativos.
Os processos judiciais, por mais justos que se julguem, raramente marcam golos. O diálogo, esse, sim, pode virar o jogo. No fundo, o que aqui escrevo é sobre inteligência emocional e visão de futuro. Porque, o que todos queremos é que o futebol angolano jogue bonito, dentro e fora de campo.
Por: Luís Caetano