Nem sempre é fácil compreender a visão de um líder. Muitas vezes, o líder visualiza o que a maioria ainda não vê. Consegue antecipar cenários, identificar oportunidades e perceber riscos que, à distância de quem executa, parecem irrelevantes ou até descabidos.
Esta diferença de percepção pode gerar desconforto nas equipas, que se questionam sobre o motivo de fazer diferente, se todos fazem do mesmo jeito. Há poucos dias, um amigo partilhava comigo um desabafo comum: dizia que, na agência onde trabalha, é ele quem faz praticamente tudo, atende clientes, controla colegas, gere tarefas e ainda faz as contas. O líder, segundo ele, limita-se a reuniões, almoços e jantares “com amigos”.
Parecia um caso clássico de injustiça. No entanto, com algumas perguntas, percebeu-se que esses “amigos” eram, na verdade, líderes das empresas clientes, e que as pessoas que ele atendia diariamente eram funcionárias dessas mesmas empresas.
Ou seja, o líder não estava a desperdiçar tempo em conversas triviais. Estava a cuidar de relacionamentos estratégicos, de onde dependem contratos, parcerias e a sustentabilidade do próprio negócio.
O que, à primeira vista, parecia fútil, era, na verdade, uma das tarefas mais críticas do seu papel. Esta situação ilustra um fenómeno recorrente: a distância entre a visão do líder e a percepção da equipa.
Há momentos em que o líder precisa ver além do muro, antecipar o que ainda não é visível, navegar em terrenos de incerteza e tomar decisões com base em informações que nem sempre podem ser partilhadas. Contudo, é importante reconhecer que nem sempre o líder está certo.
Há líderes que falham, que se perdem na vaidade ou que, quando não são os donos da organização, acabam por agir de má-fé, aproveitando-se da posição que ocupam. Isso acontece, e é preciso admitir.
Mas, na maior parte dos casos, especialmente quando há propósito e responsabilidade, o líder carrega o peso de ver mais longe, de assumir riscos e de proteger a equipa de tempestades que ainda nem começaram a formar-se. Por isso, nem sempre é possível “descer” para explicar cada decisão. Muitas vezes, a equipa ainda não está preparada para compreender o que se passa naquele nível de visão.
E não é função do líder justificar cada passo, mas sim conduzir o grupo até que todos possam, um dia, ver o que ele já via. Ser líder não é apenas ocupar um cargo, mas sustentar uma visão. É saber que o reconhecimento nem sempre vem no início, e que algumas decisões só farão sentido quando os resultados aparecerem.
Já para a equipa, fica o convite à confiança, não uma confiança cega, mas uma confiança baseada em observação, diálogo e construção mútua. Liderar é, no fim, um acto de fé: acreditar no invisível antes de se tornar visível. E seguir um líder é, também, um acto de coragem: confiar que o caminho que ele vê, mesmo que agora pareça incerto, conduz a um lugar melhor para todos.
Por outro lado, também é legítimo o sentimento das equipas. Há dias em que o trabalho parece desigual, em que as decisões parecem injustas ou em que a distância entre quem lidera e quem executa se torna um muro alto e frio.
É natural que surjam dúvidas e até frustrações. Afinal, quem está no terreno sente o esforço de forma mais directa, lida com as urgências, com os clientes, com as tarefas concretas e, muitas vezes, não vê o retorno proporcional desse esforço.
Essas preocupações são válidas e necessárias. Elas lembram o líder de que a visão precisa de ser partilhada, ainda que parcialmente, e de que a confiança se constrói também pela escuta.
A comunicação é uma ponte que deve ser mantida viva: o líder que não ouve, corre o risco de perder o contacto com a realidade; a equipa que não confia, perde o ânimo e a direcção. Há uma maturidade que precisa de nascer dos dois lados.
O líder precisa compreender que a sua visão não serve de muito se não conseguir inspirar e mobilizar quem a executa. E a equipa precisa entender que nem tudo é visível do chão, algumas coisas só se percebem quando se sobe um pouco mais. Receba o carinhoso e apertado abraço, bem como a promessa de voltar com mais partilhas matinais.
Por: LÍDIO CÂNDIDO “VALDY”
N’gassakidila