Escrevo estas linhas na madrugada de quintafeira, 30 de Outubro de 2025. Os olhos carregados de lágrimas, o coração ainda a tentar compreender a partida de alguém que, para mim, não foi apenas sogra — foi segunda mãe, luz, colo e referência de Fé. Partiu para a eternidade.
E, mesmo com a dor a apertar o peito, cumpro o compromisso religioso que se tornou estas sextas-feiras: estar aqui, sob o olhar, com os meus leitores. Há dores que não se explicam, só se vivem.
E há despedidas que não nos roubam alguém — devolvem-nos à consciência da vida. Hoje, escrevo não para falar da morte, mas da verdade que ela nos lembra: não controlamos o tempo, controlamos apenas o sentido que damos aos dias que recebemos.
A morte tem a coragem de nos perguntar, de forma silenciosa mas firme: “O que estás a fazer com o teu tempo na Terra?” E é aqui que esta reflexão se encontra com a juventude, com Angola, com África e com o nosso destino colectivo. A perda tem um poder estranho: lapida o ego e ilumina a essência.
Recorda-nos que cargos, títulos, eventos, urgências, polémicas e vaidades são pó. No fim, só contam três coisas: quem amámos, quem fomos, e o bem que deixámos no mundo. Talvez seja isso que a juventude angolana e africana mais precisa ouvir esta semana. Não como frase motivacional, mas como verdade espiritual: a vida não é sobre ser reconhecido — é sobre ser necessário.
Os jovens deste País e do Continente carregam talentos imensos, mas muitos vivem aprisionados entre a ansiedade de “chegar lá” e o medo de não serem suficientes. A dor desta madrugada ensinou-me, mais uma vez, que o problema nunca é começar pequeno — é viver pequeno, quando fomos criados para marcar a diferença.
1. Amar mais. O País e o Continente não mudam apenas com planos — mudam com humanidade. Aprendamos a tratar os outros como gostaríamos que tratassem quem amamos.
2. Servir com sentido. A nova geração não deve correr atrás de fama, mas de propósito. A liderança do futuro será espiritual antes de ser política. 3. Construir legado. Não deixemos apenas fotografias — deixemos impacto. Que cada jovem pergunte a si mesmo: “Se eu partir hoje, o que fica depois de mim?” África precisa de uma liderança que saiba chorar e continuar.
De governantes que não tenham medo de mostrar humanidade. De líderes que entendam que força não é dureza — é sensibilidade aliada a visão. Escrever com lágrimas nos olhos é assumir que a dor não anula o dever — refina a missão. Se conseguirmos transformar luto em luz, dor em empatia e tempo em legado, estaremos a criar a geração mais luminosa que Angola e África já viram. Aos mais velhos: escutem a juventude. Aos jovens: honrem a sabedoria dos mais velhos. Entre gerações, não deve haver muro — deve haver mesa.
A minha segunda mãe partiu, mas deixou lições de amor, fé e serviço. E enquanto escrevo, compreendo o tamanho do privilégio que é viver, criar, sonhar e contribuir para um País que precisa de pessoas inteiras — não perfeitas, inteiras. Talvez o maior ensinamento deste momento seja este: Não adiem o amor, o perdão, o abraço, o sonho, a missão. A vida não espera. E Deus também não. Voltaremos a encontrar-nos, sob o olhar, na próxima sextafeira. Com mais força, mais fé e mais propósito.
Por: EDGAR LEANDRO
 
			 
					



 
							



