A sociedade angolana, tal como muitas outras no mundo contemporâneo, vive marcada por dinâmicas sociais que, cada vez mais, moldam comportamentos, decisões e projectos de vida, sobretudo entre os jovens.
Um desses fenómenos é a pressão social, entendida como a influência exercida por um grupo sobre o indivíduo, muitas vezes condicionando escolhas em detrimento da autenticidade e do bem-estar pessoal.
Quantas decisões já tomámos apenas para sermos aceites pelos outros? Esta é uma pergunta que nos convida à reflexão. Com frequência, sacrificamos os nossos valores, sonhos e limites em busca de aceitação social.
Esta necessidade constante de validação ainda que silenciosa tem custado a muitos a saúde mental, emocional e espiritual. Hoje em dia, assistimos a uma sociedade acelerada, movida por padrões de perfeição definidos pelo consumismo, pelo capitalismo e pelas redes sociais.
O ideal de vida bem-sucedida tornou-se uma narrativa homogénea: terminar a licenciatura até aos 25 anos, casar antes dos 30, ter filhos até aos 35. Quem não cumpre estas “metas” parece estar a falhar ou a ficar para trás.
No entanto, é fundamental reconhecer que a vida não é uma corrida contra o relógio. Cada pessoa tem o seu ritmo, a sua trajectória e as suas particularidades. A imposição de padrões inflexíveis sufoca a autenticidade, fragiliza a autoestima e mina a capacidade de escolha livre.
Entre as principais consequências da pressão social, destacam-se: Ansiedade e depressão; Síndrome do Pensamento Acelerado (SPA); Ideação suicida e suicídio; Comparações excessivas e autossabotagem; Fadiga mental e emocional precoce.
Estes efeitos tornam-se ainda mais intensos quando somados às desigualdades sociais. Jovens de contextos socioeconómicos desfavoráveis, com acesso limitado a oportunidades, enfrentam pressões ainda maiores, sentindo-se marginalizados e impotentes perante uma sociedade que valoriza o ter em detrimento do ser. A juventude angolana tem sido fortemente afectada por este fenómeno.
A busca incessante por sucesso, beleza, aprovação e estatuto tem levado muitos a viver em constante frustração e angústia. Sentem que todos à sua volta estão a prosperar, enquanto eles permanecem estagnados mesmo que essa percepção seja, muitas vezes, influenciada pelas redes sociais. É urgente promover uma reconstrução de valores, com foco na identidade, no autoconhecimento e na valorização da individualidade.
Os agentes de socialização como a família, a escola e a comunidade bem como influenciadores digitais, criadores de conteúdo e profissionais de saúde mental, desempenham um papel essencial na desconstrução de padrões opressores e na promoção de uma cultura de aceitação e empatia.
Práticas como a escrita terapêutica, meditação, yoga e psicoterapia podem ajudar muito na redução da pressão social, ao proporcionar momentos de introspecção, equilíbrio e resgate da essência pessoal.
Mais do que nunca, o país precisa de pessoas que tenham a coragem de ser quem realmente são mesmo que isso confronte ou incomode aqueles que ainda não se encontraram.
Por: JULIETA ANGELINA FERNANDO
Estudante de Análises Clínicas e Saúde Pública | Escritora | Gestora de Projectos