A mobilidade urbana, enquanto eixo fundamental do desenvolvimento social e económico de qualquer Nação, encontra-se em Angola diante de desafios que transcendem a mera circulação de veículos.
O aumento exponencial do parque automóvel e a intensificação dos fluxos nas principais artérias do país, sobretudo nas vias de acesso ao Aeroporto Dr. António Agostinho Neto, proximamente, e nas já existentes, exigem uma gestão de trânsito racional, disciplinada e eficiente.
Uma das práticas que mais compromete essa ordem é a circulação indevida de viaturas pesadas pela faixa esquerda, em total contrariedade às normas estipuladas no Código de Estrada Angolano.
O referido código, em seus artigos 13.º e 14.º, estabelece com clareza que a circulação deve realizar-se pelo lado direito da faixa de rodagem, sendo a faixa esquerda reservada, primordialmente, às manobras de ultrapassagem.
A persistência na utilização contínua da faixa esquerda por viaturas pesadas, por conseguinte, constitui infração grave à ordem jurídica viária, merecedora de sanção proporcional.
Todavia, mais do que uma infração legal, trata-se de um comportamento que expõe as fragilidades da nossa cultura rodoviária e revela a urgência de uma reeducação do condutor angolano.
As consequências dessa conduta são múltiplas e interligadas. A obstrução da faixa de ultrapassagem por veículos de grande porte provoca lentidão no trânsito e desencadeia congestionamentos prolongados, comprometendo a fluidez necessária à mobilidade urbana.
Os riscos de acidentes aumentam de forma exponencial, visto que a faixa esquerda, concebida para circulação mais veloz, se converte num espaço de manobras forçadas, ultrapassagens arriscadas e colisões potenciais.
A infraestrutura rodoviária, por seu turno, sofre desgaste acentuado, sobretudo quando o peso dos camiões incide de forma repetida e intensa sobre trechos não projectados para tal carga.
Este panorama é ilustrado por casos trágicos como o acidente ocorrido na Avenida Deolinda Rodrigues, onde vidas foram perdidas em consequência de práticas indevidas de condução. A ausência de rigor no cumprimento das normas, bem como a deficiência na fiscalização eficaz, acentuam a gravidade da situação. Casos assim revelam que o problema transcende a ordem viária e atinge, com violência, o tecido social e o valor da vida humana
. A nível internacional, países como Portugal já implementaram políticas rigorosas para coibir a ocupação indevida da faixa esquerda. A Guarda Nacional Republicana (GNR), por exemplo, recorre sistematicamente a operações de fiscalização específicas para disciplinar os condutores infractores.
Angola pode e deve inspirar-se nestas práticas, adaptando-as ao seu contexto, com vista à promoção de uma cultura de condução mais responsável e respeitável.
Por: JOÃO BAPTISTA KUSSUMUA