Afinal da Taça COSAFA Sub-17 em Harare, no Zimbabué, foi um daqueles jogos que deixam um sabor agridoce. A selecção nacional de futebol Sub-17, os “Palanquinhas” perdeu por 2-1 diante da África do Sul, mas garantiu o principal objectivo, a qualificação para o Campeonato Africano das Nações Sub-17. Ou seja, falhámos a taça, mas continuamos no caminho certo para chegar ao palco continental… e talvez até ao Mundial da categoria.
Mas nem só de resultados se faz uma boa crónica. Vamos aos factos, os miúdos jogaram com garra, deixaram suor no relvado e até chegaram a sonhar com o título, porém, não se pode ignorar que os erros defensivos e a falta de eficácia ofensiva pesaram e muito.
Foram detalhes que, na formação, fazem toda a diferença e quando se está a formar futuros craques, cada detalhe conta. O quadro comparativo de preparação para a competição entre Angola, África do Sul e Moçambique é revelador.
A selecção sul-africana começou a preparar-se quase um mês antes de Angola. Moçambique, por sua vez, iniciou em Junho e ainda teve direito a quatro jogos na Luso Cup em Portugal.
Angola? Começou em Setembro.Um país com tradição no futebol jovem, com títulos africanos e presenças em mundiais, não pode continuar a atropelar processos. E o que vimos em Harare foi exactamente isso: jogadores promissores, mas com menor tempo de jogo em conjunto, menor ritmo competitivo e menos bagagem táctica. Outro ponto que não pode ser ignorado é o simbolismo da presença da direcção da FAF nestes momentos.
A selecção sub-17 esteve bem acompanhada tecnicamente, com Zeca Amaral a liderar a direcção técnica nacional. Mas a ausência visível da direcção da FAF, particularmente do presidente ou de um vice-presidente, pesa.
Os miúdos notam, a equipa técnica nota e os adversários também. Não se trata de populismo, trata-se de incentivo institucional. Quando se vê o presidente de uma federação a apoiar os escalões de formação, passa-se a mensagem de que “isto é importante”. E isso é meio caminho andado para criar espírito de selecção e sentido de pertença.
A Taça COSAFA Sub-17 de 2025 provou que o futebol jovem angolano continua a ter talento de sobra, mas talento só não basta. A derrota na final não deve ser lida como um fracasso, mas como alerta, porque, se queremos voltar a estar entre os melhores do continente e do mundo, temos de apostar com maior firmeza nos nossos rapazes.
É preciso mais preparação, mais jogos internacionais, mais torneios competitivos, melhor acompanhamento médico, psicológico e técnico. É preciso que os “Palanquinhas” deixem de ser apenas uma promessa bonita para se tornarem numa geração verdadeiramente campeã.
O CAN Sub-17 está à porta, há tempo para corrigir os erros e fortalecer a equipa. Finalmente, espero que esta crónica sirva de memória. Não se ganham títulos apenas com talento, é preciso visão, compromisso e acompanhamento.
Por: Luís Caetano