Em Angola fala-se pouco sobre saúde mental. E menos ainda sobre o suicídio. O tema permanece num corredor escuro, cheio de silêncio e tabu, como se o simples acto de o mencionar fosse abrir uma ferida que ninguém quer encarar.
Mas a verdade é que a dor existe, e também bate às portas dos nossos locais de trabalho. No dia 12 do corrente mês, fomos surpreendidos pela manhã, com a notícia de mais um trabalhador que suicidou-se no local de trabalho, por sinal, “tratava-se de um subcomissário que após ter sido exposto por sua chefia durante uma reunião por mensagens comprometedoras conforme aponta a noticia, decidiu atirar sobre a própria cabeça”.
Novembro é mês reconhecido como o mês de prevenção ao suicídio, devido ao Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, coincidência ou não é simplesmente um alerta para um assunto de extrema relevância.
Quantas vezes já ouvimos colegas a dizerem: “Aqui ninguém dorme”, “Se não aguentar, sai”, “O chefe é mesmo assim, temos de suportar”? Entre piadas e normalizações, esconde-se uma realidade dura: ambientes laborais tóxicos, jornadas exaustivas, salários atrasados, humilhações úblicas, falta de reconhecimento e o medo constante de perder o emprego. Tudo isso corrói em silêncio.
Que nível de stresse uma pessoa tem de atingir ou suportar para pensar em tirar a própria vida? Um trabalhador, muitas vezes, carrega não apenas a responsabilidade profissional, mas também o peso de sustentar famílias inteiras.
O emprego deixa de ser apenas fonte de rendimento para ser uma questão de sobrevivência. E quando a pressão ultrapassa os limites humanos, o desespero pode encontrar no suicídio uma saída trágica.
A Lei Geral do Trabalho (Lei n.º 12/23) fala de direitos, deveres e protecção da dignidade do trabalhador. Mas, na prática, quantas empresas olham para a saúde mental como prioridade? Quantas têm programas de apoio psicológico? Quantas formam líderes para gerir pessoas com humanidade, em vez de apenas cobrar metas? Ignorar o problema é perpetuar o risco. Falar de suicídio não é encorajar, é prevenir.
É lembrar que cada colega ao nosso lado pode estar a lutar contra batalhas invisíveis. É reconhecer que a produtividade não pode estar acima da vida. Se quisermos empresas fortes, precisamos de trabalhadores vivos, saudáveis e respeitados.
Talvez a verdadeira revolução nos recursos humanos em Angola não esteja apenas em novas tecnologias ou processos, mas sim em algo muito mais simples e urgente: escutar, apoiar, cuidar. Porque nenhuma meta alcançada justifica uma vida perdida.
Por: Yona Soares
Advogada e Gestora de Recursos Humanos