Desde tenra idade aprendi que o saber não ocupa lugar, compreendi que o aprendizado serve sempre de guia para o desenvolvimento pessoal e colectivo, desta forma, recentemente comecei a fazer observações em torno de uma palavra que me foi apresentada pela minha parceira quando eu reclamava de um assunto.
Ela disse: “Amor, deixa dessa AUTOCOMISERAÇÃO”. Confesso que fiquei estarrecido, porque, além de ser confrontado com um termo novo ao meu vocabulário, a firmeza colocada por ela na entoação obrigou-me a dar toda atenção e pesquisar sobre a dicção.
Na pesquisa, percebi que a fala acarreta os seguintes sinónimos: autocompaixão, autopiedade, coitadismo, vitimismo, autovitimismo, vitimização, vitimação, autocomplacência e, como exemplo encontrado na pesquisa, está o seguinte parágrafo: Pare, imediatamente, com essa autocomiseração, levante a cabeça e bola para a frente! Certo que fiquei esclarecido e tive plena certeza de que, naquele assunto, a minha parceira estava coberta de razão, tanto que segui adiante e não mais reclamei.
Naquele dia de grande aprendizado e por conta de um cenário que tenho assistido todos os dias quando me movimento por Luanda, comecei a refletir que não era o único no mesmo estado de “autocomiseração”, veio me a memoria que por quase toda província, o índice de acidentes de viação com vítimas mortais ou gravemente feridas tende a crescer no mesmo nível ou superior está o índice de pessoas a exigirem melhores condições nas estradas, exemplo de iluminação pública, exigências que de todo são legitimas visto que existe uma verba aproxima de Kz 811,9 mil milhões, para Construção, Reabilitação, Conservação e Manutenção de Infra-estruturas Rodoviárias, e deste valor a dado de exemplo constam as grelhas de protecção, que vimos todos os dias a nossa gente (povo) a remover das barreiras de proteção e a dar destino incerto, situação que obriga o governo a colocar de volta gastando uma bolada de dinheiro que serviria para outros apetrechamento para maior segurança nas estradas, só para citar, o que levou em 2024, ao gasto de mais de Kzs 600 mil milhões, superando a metade do orçamento do ano, apenas em reposição de materiais vandalizados, ou seja, onde nós “ovacionamos” por melhores condições, igualmente esbanjamos por conta da falta de responsabilidade com o que já tínhamos, logo, o povo vive num estado de “ Autocomiseração”, porque destruir para depois em gritos com a voz tremula e triste reclamar da falta daquilo que destruímos, é um claro acto de “autocoitadismo”.
No mês de Agosto passado, em visita à centralidade do Mussungue – Lunda-Norte, que por sinal é o lar de uma grande maioria tida como “alta sociedade local”, constatei uma infeliz realidade. Os habitantes abandonaram a responsabilidade de cuidar do património, o que pude ver com o olhar de espanto no sentido negativo.
É uma centralidade suja ao ponto de os edifícios se tornarem balneário público com “estercos” humanos por todo o lado, portas de entradas arrancadas, postes de iluminação pública vandalizados, cenário de um lugar que não pertence a ninguém quando devia pertencer ou haver o sentimento de pertença dos próprios moradores.
Na conversa que abertamente mantive com alguns moradores, literalmente todos de forma unânime disseram que o governo não vela pela centralidade, uma declaração de autocomiseração por parte daquela população, que entende ser obrigação da estrutura governamental cuidar da sua casa. Infelizmente, esse quadro se generaliza; a cada dia que passa, nos especializamos em autopiedade, coitadismo, vitimismo, autovitimismo, vitimização, vitimação, autocomplacência e assim caminhamos como O “povo” e o “gosto” pela autocomiseração.
Por: Emílio José
Psicólogo | Jornalista | Especialista em Desenvolvimento Humano e Inteligência Emocional









