Amenos de dois anos do fim do segundo mandato, o Presidente da República, João Lourenço, demonstrou, na entrevista que concedeu no passado dia 7 de Novembro à CNN, não estar interessado num terceiro mandato, até porque a Constituição da República de Angola limita categoricamente qualquer pretensão nesse sentido.
Aliás, já em ocasiões anteriores deu sinais nesse mesmo sentido, apesar das informações não confirmadas que sectores da oposição política, durante algum tempo, foram alardeando. Nesta fase, quando já se começa a pôr em evidência a necessidade de se arrumar os bens para se desapossar do Palácio, deixando caminho para um sucessor, surge também a necessidade de se fazer contas em relação ao que se realizou durante cerca de dez anos.
Depois de um mandato longevo do malogrado Presidente José Eduardo dos Santos, entre 1979 e 2017, é consabido que o sucessor herdou um país ainda mergulhado numa crise económica e social, com uma reconstrução nacional que carecia de conclusão, englobando infra-estruturas até então tidas como já reparadas — como estradas, hospitais e escolas — que mereciam uma atenção mais cuidadosa. Oito anos depois, a situação social ainda é uma incógnita.
A economia procura restabelecer-se, embora de forma tímida para muitos, mas os sinais de uma maior diversificação — com a aposta na agricultura e o surgimento de indústrias — estão aí evidentes. Mas, claro, ainda há muito por fazer.
Nos próximos anos, falar-se do legado do Presidente João Lourenço será, certamente, tema de acesos debates, mas com alguns pontos que deverão ser acolhidos positivamente, com alguma unanimidade. Na entrevista à CNN, o Presidente menciona o aprofundamento e a continuidade do processo de reconciliação nacional, a saúde e o combate à seca. São três sectores dos quais não se pode, sem qualquer demagogia, deixar de exaltar o que está a ser feito por João Lourenço.
Em relação à saúde, os ganhos são imensuráveis em termos de infra-estruturas e serviços, com um aumento significativo do número de camas em quase todo o país, assim como na formação. Quanto à seca, quem acompanhou as tragédias no Cunene — e noutros pontos do país — pôde testemunhar o empenho do Chefe de Estado e do seu Executivo.
O Canal do Cafu e as barragens em construção no Namibe, Cunene e noutros pontos são exemplos bastantes de que o sofrimento anterior não é o mesmo nos dias de hoje.
Diferentemente das obras, cuja conclusão é sempre possível — às vezes até em tempo recorde — a reconciliação é um processo que exigirá de todos os angolanos um envolvimento colectivo. Não se trata apenas de uma tarefa exclusiva do Presidente, embora, enquanto promotor, possa ajudar sempre a dar um passo a mais.
Por isso, não se pode, de modo algum, escamotear o trabalho da CIVICOP em relação ao 27 de Maio, nem tão pouco o tratamento que se deu a muitas figuras vivas e mortas da oposição, entre as quais o então líder da UNITA, Jonas Savimbi.









