Na gramática da língua portuguesa, as palavras se classificam em diferentes categorias morfológicas, como substantivo, verbo, adjetivo, advérbio, entre outras. Em sua forma comum e mais frequente, “fazer” é reconhecido como um verbo — mais precisamente, um verbo irregular da segunda conjugação, que expressa a ideia de realizar, executar, produzir ou construir algo.
No entanto, em determinados contextos, “fazer” pode funcionar como substantivo. Essa possibilidade revela a flexibilidade da língua portuguesa e a capacidade que ela tem de converter palavras de uma classe gramatical em outra, fenômeno conhecido como derivação imprópria ou conversão. A derivação imprópria ocorre quando uma palavra muda de classe gramatical sem sofrer alterações em sua forma.
No caso do verbo “fazer”, quando é utilizado como substantivo, mantém sua estrutura verbal, mas passa a desempenhar funções típicas de um substantivo. Vejamos o exemplo: > “O fazer pedagógico requer reflexão constante.” Neste exemplo, “fazer” já não é mais o núcleo verbal da oração. Ele é antecedido por um artigo definido (“o”), o que indica que está sendo usado como um substantivo.
Além disso, atua como sujeito da oração, comportamento típico de um substantivo. Aqui, a palavra designa uma ação abstrata ou um conjunto de práticas, e não um ato verbal específico. Isso confirma que, sim, em certos contextos, “fazer” pode ser chamado de substantivo. Do ponto de vista semântico, o “fazer” substantivado ganha um valor mais conceitual.
Ele não se refere necessariamente a uma ação concreta e localizada no tempo, como ocorre com o verbo conjugado, mas a um processo contínuo, uma prática ou um modo de agir.
É comum encontrar essa forma em discursos acadêmicos, filosóficos e profissionais, em que se busca falar de ações de maneira generalizada, como em “o fazer político”, “o fazer artístico”, “o fazer cultural” ou “o fazer literário”.
Além disso, a possibilidade de substantivação de verbos no português é relativamente produtiva. Verbos como “comer”, “viver”, “andar”, “amar” e “saber” também podem ser substantivados: “o comer exagerado faz mal à saúde”, “o saber liberta”, “o amar exige entrega”. Essa característica mostra como a língua se adapta para expressar ideias abstratas e reflexivas.
Do ponto de vista morfológico, é importante destacar que, mesmo sem afixos ou desinências típicas dos substantivos, a palavra é considerada substantivo pelo seu funcionamento na frase.
A gramática moderna valoriza essa análise funcional — ou seja, uma palavra é classificada não apenas por sua forma, mas também pelo papel que desempenha na estrutura sintática.
Portanto, podemos afirmar, com segurança, que o “fazer” pode sim ser chamado de substantivo, desde que esteja sendo usado dentro de um contexto em que desempenhe funções nominais.
Esse uso não é apenas válido, mas enriquecedor, pois amplia o alcance expressivo da língua portuguesa e permite uma comunicação mais abstrata, reflexiva e filosófica. Reconhecer essa versatilidade linguística é fundamental para quem deseja dominar o uso da língua de maneira plena e criativa.
Por: MARCOS DALA
*Professor