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O fardo da bondade: Representações do lusotropicalismo em “Na pele de Zito Maimba”, de Paula Russa (II)

Jornal OPaís por Jornal OPaís
20 de Outubro, 2025
Em Opinião

Ao projectar esta cena de remorso, Paula Russa não absolve o colono, mas expõe o fracasso moral do seu humanismo. A morte sacrificial do patrão, que se interpõe para salvar o criado, não purifica a culpa histórica: transforma-a num melodrama cristão.

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O “branco que morre pelo preto” é o ápice do mito lusotropical — o gesto de reconciliação que apaga o crime da escravatura pela virtude do arrependimento. Porém, como observa Frantz Fanon (1952/2008), “a bondade do branco é apenas o disfarce do seu domínio; ao conceder humanidade ao negro, reafirma-se como seu criador”. O colono não liberta Zito: reafirma-se como seu Deus.

O “lusotropicalismo natural” manifesta-se, portanto, como um sentimento, não como uma ideologia formal. É o modo como a servidão se torna hábito, como a hierarquia se torna moralidade. Quando Zito afirma: “Sentia saudades dos velhos tempos… Nada mais tinha senão as suas belas lembranças… a viagem que o fizera sentir-se realmente um preto distinto dos demais” (p. 71), ele celebra a própria diferença que o exclui.

O “preto distinto” é o produto acabado da colonização cultural — alguém que já não pertence à comunidade de origem nem é aceite plenamente na do opressor. A autora, ao ancorar essa ambiguidade na memória de um velho moribundo, devolve ao leitor a imagem de uma Angola pós-colonial que ainda dialoga com as sombras do passado.

O narrador omnisciente apresenta um Zito nostálgico, solitário e pobre, vivendo “no mesmo bairro e na mesma casa de adobe onde nasceu” (p. 71), como quem cumpre um destino circular: o retorno à terra que negou, o reencontro com o corpo africano.

Esse regresso final é o momento em que o lusotropicalismo natural implode — o corpo que acreditou na harmonia racial termina esquecido, alimentado pelas sobras “das suas refeições” (p. 70). A ternura dos brancos não garantiu pão, nem o amor substituiu a cidadania.

A escrita de Paula Russa, subtil e emocionalmente contida, desmonta o mito sem o proclamar. Ao contrário de uma denúncia directa, ela opta por uma ironia trágica: o negro ama o seu opressor, o opressor morre por ele, e o mundo continua igual. A narrativa constrói, assim, um microcosmo simbólico de Benguela — espaço onde o “lusotropicalismo natural” não é uma política, mas uma herança afectiva e ambígua.

O leitor percebe que, no fundo, o amor de Zito pelos patrões e o arrependimento de Antunes fazem parte da mesma engrenagem: a da colonização emocional. Zito Maimba morre pobre, analfabeto e saudoso — mas, paradoxalmente, dignificado pela memória.

A sua inocência torna-se denúncia, e o seu conformismo, resistência passiva. Em última análise, Paula Russa convida-nos a pensar que o verdadeiro legado colonial não é o território, mas a alma: uma alma educada para servir, agradecer e recordar com ternura a própria servidão.

Eis o coração do lusotropicalismo natural — não o discurso de Freyre, mas a sua versão interior, que floresceu nas casas coloniais de Benguela, onde o amor se confundia com a obediência e o afecto com a desigualdade.

Por: FERNANDO TCHACUPOMBA

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