Há sentimentos que não pedem licença para entrar. A nostalgia é um deles. Ela chega de mansinho, como brisa que atravessa a cortina de um quarto silencioso. Traz-nos imagens de um tempo que já não é — mas que, em alguma parte de nós, ainda vive.
E então, sentados entre o agora e o que já passou, vemo-nos a suspirar pela inocência dos dias em que não sabíamos tudo o que perderíamos. Mas será mesmo o passado que desejamos? Ou será a paz que acreditávamos ter, e que o presente insiste em negar? A nostalgia muitas vezes não é saudade real do que se viveu, mas sim do que não se viveu plenamente.
É o reflexo da sensação de que algo ficou por dizer, por fazer, por ser. Como se a vida, em algum ponto, tivesse desviado do que parecia ser o caminho certo. E o presente, com as suas desilusões, cobranças e fracturas, faznos olhar para trás com carinho — como se o ontem tivesse sido mais justo do que realmente foi. Porque no passado, os sonhos ainda estavam vivos, e as feridas ainda não haviam sangrado.
“Desejar voltar no tempo é, muitas vezes, um pedido de socorro.” Um apelo silencioso da alma que clama por sentido, por reencontro, por abrigo. Alguns chamam de fraqueza. Outros de sentimentalismo.
Eu prefiro chamar de memória emocional — essa força que nos liga a quem já fomos e ao que ainda gostaríamos de ser. É a nostalgia que nos diz: “Ali, naquele tempo, havia algo que fazia sentido.”
Não devemos viver presos ao passado, é verdade. Mas também não precisamos esquecê-lo. Porque há lembranças que não são prisões, são ponte.
E se aprendermos a atravessá-la com sabedoria, talvez descubramos que o melhor do passado pode ser semente para o futuro — e não apenas refúgio para a dor do presente.
A nostalgia, quando bem ouvida, não é fraqueza. É a voz da alma dizendo que ainda é possível viver algo bonito — mesmo que diferente.
por: Gabriel Tomás Chinanga