O desporto, outrora sinónimo de paixão, orgulho nacional e instrumento de coesão social, vive em Angola uma fase de descompressão emocional e desinteresse progressivo.
Com excepção das selecções nacionais, especialmente os Palancas Negras e de dois ou três clubes com alguma expressão, a maioria dos jovens angolanos parece ter desligado o olhar do espetáculo desportivo nacional.
Essa quebra de entusiasmo não acontece por acaso. Ela resulta de um conjunto de factores estruturais e conjunturais que minam a confiança e o envolvimento das massas com o fenómeno desportivo.
A verdade desportiva, ou melhor, a sua ausência, transforma campeonatos em meros rituais, onde a previsibilidade dos resultados e as suspeitas de manipulação de jogos descredibilizam a competição. A qualidade técnica dos jogos também é um entrave.
Equipas mal preparadas, jogos com baixo nível competitivo e arbitragem questionável tornam difícil criar empatia com o público. A isto somam-se infra-estruturas degradadas, que em nada motivam a presença dos adeptos, e a escassa transmissão mediática de várias modalidades, o que as relega ao anonimato. Mas talvez o factor mais preocupante seja a falta de incentivos reais por parte do Estado, existentes em programas, mas inexistentes na prática.
A ausência de políticas públicas consistentes de promoção do desporto escolar, comunitário e federado impede que se forme uma cultura desportiva sólida. O desporto é visto como um luxo e não como parte do desenvolvimento social e humano.
É urgente um novo pacto para o desporto angolano, onde todos os agentes, Estado, clubes, federações, empresas e comunicação social assumam o compromisso de reerguer este sector.
Não se trata apenas de melhorar resultados, mas de restaurar o espírito de pertença e identidade que o desporto é capaz de gerar. Para reverter este cenário, é imperativo um esforço conjunto.
O Estado deve assumir a responsabilidade de criar políticas eficazes de incentivo ao desporto, investir na formação de gestores e garantir a manutenção adequada das Infra-estruturas.
A iniciativa privada, por sua vez, deve ser encorajada a investir no sector, contribuindo para a sua sustentabilidade. A credibilização do desporto angolano não é apenas uma questão de resultados em campo, mas de compromisso com o desenvolvimento social e humano do país.
É hora de transformar o desporto em uma verdadeira ferramenta de inclusão, educação e progresso. Sem esse esforço conjunto, o desporto continuará a ser, para muitos, uma paixão esquecida. E Angola perderá uma das suas mais poderosas ferramentas de transformação social.
Por: Luís Caetano