Ao ingressar no ISCEDHuíla, na especialidade de Ensino da Língua Portuguesa, confesso que, por ignorância minha, acreditava que o currículo do curso se resumia a disciplinas voltadas exclusivamente para o aperfeiçoamento da fala.
Ou seja, imaginei que aprenderia, essencialmente, como se deve falar bem português, como se houvesse fórmulas únicas e infalíveis para o «assim se diz, e não de outro modo».
Essa percepção foi alimentada pelas muitas vozes ao meu redor, que reiteravam que quem estuda português torna-se automaticamente um craque na fala — porque, como se dizia, «lá na FAU te ensinam a falar certo».
Esse imaginário, construído socialmente, tornouse a minha expectativa inicial. Contudo, já dentro da academia das letras — o ISCED —, e ainda no primeiro ano, a frustração começou a incomodar-me.
Dentre todas as cadeiras que frequentava, apenas uma, Técnicas de Comunicação, parecia tratar directamente de aspectos gramaticais, ainda que, naquela fase, eu nem soubesse ao certo o que significava «gramática normativa».
Nos anos seguintes, entre o segundo e o terceiro, tive contacto com mais uma ou outra disciplina que abordava o padrão linguístico — aquilo que eu considerava como o adoçante que afina a «fala correcta».
Foi por isso que, até ao terceiro ano, não compreendia patavina dos reais objectivos da formação. Aquilo que ouvi de muitas pessoas, somado ao fraco aproveitamento académico que registava, acabou por alimentar a minha insegurança, insatisfação e a perda de interesse pelo futuro ligado à Língua Portuguesa.
Felizmente, a constância no diálogo com amigos virtuais, as buscas incessantes e investigações planeadas tornaram-se as minhas atalaias. Com elas, fui adquirindo luz para perceber que, na verdade, eu observava o curso por uma lente reducionista, fixando-me apenas numa parte: o estudo da gramática normativa, com os seus critérios de certo e errado, e a ilusão do «falar bonito».
Com o tempo, compreendi que a Língua Portuguesa vai muito além de regras feitas, clichés improvisados ou tendências de vocabulário rebuscado. Ela é, antes de tudo, um instrumento de cultura, de inclusão social, de trabalho e de ensino.
Aprendi, enfim, que, mais do que as partes isoladas do currículo, a língua deve ser apreendida, compreendida e analisada como um todo, tal qual um bolo que não pode ser preparado ignorando nenhum ingrediente, por menor que seja.
Hoje, o meu olhar é mais holístico, mais maduro e alinhado com o que realmente deve ser compreendido: por que, para quê e como ensinar e aprender Língua Portuguesa.
Por: Gabriel Tomás Chinanga









