Há um ditado africano que diz: “É preciso uma aldeia inteira para educar uma criança.” E por mais que os tempos mudem, há sabedorias que permanecem actuais. Entre elas, esta: os nossos filhos não crescem apenas com aquilo que lhes ensinamos — crescem, sobretudo, com aquilo que os rodeia.
A maioria dos pais e mães deseja o melhor para os seus filhos. Trabalham, sacrificamse, fazem malabarismos para garantir alimentação, educação e segurança. Mas há uma variável nem sempre tida em conta e que é tão determinante quanto tudo o resto: o ambiente. Sim, o ambiente.
A zona onde vivemos, o tipo de vizinhança que temos, os lugares que frequentamos, as conversas que os nossos filhos escutam, os colegas com quem convivem. Tudo isso molda a visão que vão construindo do mundo, dos valores, das referências que carregam.
Costuma-se dizer que os melhores amigos da infância e adolescência são, muitas vezes, os colegas de escola ou os vizinhos do bairro. E esta simples constatação traz uma pergunta de reflexão: que tipo de vizinhos têm os nossos filhos? Em que tipo de rua, de prédio, de círculo social eles crescem? Que linguagens ouvem à porta de casa? Que exemplos observam quando brincam no quintal, no prédio ou no condomínio? Nas escolas, o mesmo se aplica.
Que tipo de colegas os rodeia? São ambientes que valorizam o conhecimento, o respeito, a diversidade, a ética? Ou são espaços de competição tóxica, desvalorização e violência emocional? E atenção: não se trata aqui de elitismo, de julgamento social ou de vaidade.
Trata-se de intenção. De sermos intencionais sobre os espaços onde colocamos os nossos filhos. Não se trata de viver por interesse, mas de viver com propósito. Pode até parecer frio para alguns, mas, na verdade, é sinal de responsabilidade. É claro que nem todos podem, de imediato, mudar de bairro ou pagar a melhor escola. E não precisam. A intenção não exige luxo. Exige consciência.
É possível viver com simplicidade e, ainda assim, garantir experiências enriquecedoras. É possível estar numa escola pública e, mesmo assim, cultivar boas referências em casa, levar os filhos à biblioteca, muséus, oferecer-lhes actividades extracurriculares, conversar com profundidade. É possível não ter tudo — mas oferecer o melhor dentro das possibilidades. A chave está no equilíbrio.
Não se trata de endividar-se para colocar os filhos numa escola onde o ambiente sufoca mais do que educa. Não se trata de viver numa zona que tira o sono, só para fazer parte de um círculo “melhor”.
Trata-se de observar com olhos atentos: o que está ao meu alcance agora? Como posso criar, dentro da minha realidade, um ambiente fértil para o crescimento emocional, intelectual e espiritual dos meus filhos? A criança que cresce num ambiente que inspira confiança, curiosidade, respeito e incentivo carrega ferramentas que nenhuma escola pode garantir sozinha.
Por outro lado, a criança exposta continuamente a ambientes de violência, desvalorização ou negligência terá de lutar contra feridas que nem sempre se veem. Hoje, a reflexão que deixo é esta: Que ambientes estamos a oferecer? Será que estamos mais preocupados com o uniforme ou com o tom das conversas que os nossos filhos escutam? Mais focados no boletim de notas do que nas amizades que cultivam? Mais atentos à renda da casa do que ao tipo de energia que se sente à volta? O ambiente educa. Silenciosamente, todos os dias.
E por vezes, é no invisível que o mais importante acontece. Que Deus nos conceda discernimento para criar ambientes saudáveis, coragem para fazer ajustes necessários e sensibilidade para perceber que, no fim, o que desejamos para os nossos filhos começa por aquilo que lhes permitimos viver.
Por: LÍDIO CÂNDIDO “VALDY”
N’gassakidila