Em Angola, o neologismo popular é mais do que uma tendência linguística, é um reflexo vivo da nossa identidade, da nossa criatividade e da forma como sentimos o mundo. Expressões como “neprumale” não vêm dos dicionários, mas do coração do povo.
E não estamos a falar de “bungle bangle”, estamos a falar da alma linguística que soa nos bairros do Zengá, Lembá, Lancá ou Zabá. Digam lá, há alguma palavra formal que consiga vir “taco a taco” com “tó malaique”? Nem já! Não estamos aqui para enfeitar frases com mesóclises, próclises ou ênclises, isto fica para quem quiser seguir a gramática normativa ao pé da letra. Nós seguimos a gramática da vivência e da convivência. Mesmo que “dê barulho”, o estilo Angolês sempre “vá queceré”, pois é, para nós, um “banzelo” rotineiro.
O “mó ndengue” é mais do que um termo carinhoso, é um neologismo simbólico de irmandade. O “yeah” é mesmo que sim; o “kota” é o nosso mano mais velho; o “kumbo” é o nosso dinheiro; o “raço*” é o nosso biscato; o “ir bumbar” é o nosso ir ao trabalho; o “estou gato” é o nosso estou fraco, não tenho dinheiro; o “pilha” é o nosso amigo que nos ajuda; o “piteu” é a nossa comida; a “minha velha” é a minha mãe; na verdade, a lista é longa.
No entanto, neologismos como estes não se aprendem nos livros, aprendem-se nas ruas, nos musseques, no convívio, no corpo a corpo da língua com o povo. Estás “malaique”, né? Fica calmo, pois ainda não mencionei o moderno património nacional: “pão, pão – queijo, queijo; outras coisas são outras, claro, depois de lerem, não venham cá com nucequé, nucequé, entretanto, se der barulho, vou tirar o pé, vou babular, ou seja, vou dar o kibidi.”
O que é, de facto, neologismo popular? Este é a pergunta que não se quer calar. Em palavras simples, neologismo popular é uma palavra ou expressão nova criada espontaneamente pelas pessoas no dia a dia, fora do uso formal da língua. Surge por criatividade, brincadeiras ou necessidades de comunicação.
Os neologismos populares surgem de forma espontânea no dia a dia das pessoas, principalmente nas comunidades, ruas, redes sociais, músicas, escolas e outros espaços de convívio. Eles aparecem por várias razões, como: 1. Necessidade de nomear algo novo: Quando surge algo novo na cultura ou sociedade, as pessoas criam palavras para nomeá-lo.
Criatividade e humor popular: O povo brinca com as palavras, misturando sons, línguas ou inventando expressões engraçadas. 3. Mistura de línguas locais com o português: Muitos neologismos vêm da fusão entre línguas nacionais e o português.
4. Influência da música e cultura urbana: Estilos como kuduro, rap ou semba trazem palavras novas que ganham força no uso cotidiano. Estas palavras podem ou não entrar no dicionário, mas fazem parte viva da linguagem informal e da identidade cultural angolana. Desde que não tenham sentido ofensivo, os neologismos populares podem ser usados na normalidade em contextos informais de cada falente.
Não é, claro, normalizar o baixo vocabulário, mas é, apenas, seguir a gramática da vivência e da convivência. Ficou a “dika”? Acredito que tenha ficado. Não tenham medo dos caçadores de erros!
A língua é uma arte e, na condição de artistas, podemos brincar com as palavras, desde que não ofendamos os receptores, nem as usemos para difamar ou caluniar. Usar a língua para transmitir boa disposição é, também, um tesouro, sem dúvidas. Portanto, se der barulho, já sabem, vou “sabalar”, vou “tirar o pé”, nada de caras trancadas.
Por: LUTINA SANTOS