Quando chega Dezembro, parece que todos somos contagiados por uma energia meio misteriosa, quase caótica, como se uma ansiedade colectiva tomasse conta da cidade de Luanda.
Tudo vira urgente, as pessoas aceleram sem travão e o incomum vira rotina, como se este fosse o último mês das nossas vidas. As atitudes mudam, os comportamentos ficam estranhos e, muitas vezes, completamente paradoxais. A cidade entra num ritmo de maratona. Basta olhar para os rostos: pressa, stress e aquela “necessidade suprema” de comprar tudo o que lembra Natal.
Produtos que insistimos em adquirir, ano após ano, como se existisse um decreto a obrigar-nos a comprar bacalhau, azeite extras virgens que nos roubam a virgindade do bolso, frutos secos, peru, bolos-reis, bolos-rainhas e mais uma lista infinita de coisas que custam os olhos da cara.
A verdade é que muita gente sacrifica o essencial, estoura poupanças e até contrai dívidas só para manter tradições que, no fundo, não acrescentam nada ao bem-estar das famílias angolanas. Mui tas vezes, o que se leva para casa é supérfluo, dispensável e nem faz diferença real no nosso dia-a-dia.
Em dezembro, o trânsito fica caótico, a paciência evapora e os acidentes aparecem como chuva torrencial. Os supermercados enchem como se Luanda in teira tivesse combinado aparecer no mesmo dia e à mesma hora. Fi las enormes, stress e a sensação de que “falta sempre qualquer coisa para comprar”.
Em dezembro, gasta-se até o que não se tem. Adiam-se sonhos, assumem-se dívidas e vive-se uma correria atrás de produtos para uma quadra que se tornou, essencial e exacerbadamente, consumista.
As portas das casas também se abrem para todos: amigos que não apareceram o ano inteiro, familiares que surgem do nada, gente vinda do exterior, tudo “porque é Natal”. E, no meio disso tudo, continuamos a insistir em tantos produtos importados e caríssimos, só para parecer que está tudo bem, quando muitos de nós enfrenta mos uma realidade financeira difícil.
Neste Natal, que cada família adapte a festa conforme o seu bolso. Não tem bacalhau? Com pra peixe seco. Azeite ficou caro? Vai de óleo de palma. Em vez de grão-de-bico, usa feijão macunde. Bebe maruvo, quissangua, capuca, da boa cuca, da água do nosso chefe; o bom sumo de mucua, de massango ou o bom batido das abundantes frutas da nossa terra.
Torna este Natal angolano e poupe dinheiro, sem stress. Pare de correr atrás de produtos de Natal que não acrescentam na da à sua saúde física ou mental, só castigam o seu bolso e acabam por deixá-lo no vermelho. Troca o bolo-rei por um bolo caseiro.
Troca o cozido à portuguesa por um bom mufete, funge de carne seca, muamba de galinha, calulu, chicuanga, fúmbua, mi lho assado ou pé-de-moleque, caso não tenha, sirva o seu arroz com feijão, sirva o que o seu bolso permitir. Se pensarmos bem, quase tudo o que usamos tradicionalmente no Natal é importado, tudo produzido fora e vendido a preços muitas vezes absurdos.
E grande parte disso é completamente substituível por algum produto nacional. A proposta é simples: Acalmar o coração, fugir do stresse e fazer um Natal tipicamente mwangolé. Trocar produtos importados por opções nacionais, que são mais baratas, saborosas e fortalecem quem produz dentro do país. Na troca de presentes, prioriza artesanato, panos africanos, trabalhos dos nossos artistas plásticos, discos, audiovisuais e livros dos nossos escritores, caso não, ofereça um abraço, um beijo ou a sua presença. Sem stress.
E se não há dinheiro para árvore de Natal e outras decorações, não tem problema. Quem não tem, não in venta a moda. Usa um galho de ár vore, faz enfeites de papel com os teus filhos. É divertido, económi co e cria memórias lindas. Transforme o Natal num evento que valoriza a paz (física, mental e espiritual), que respeita o seu bolso e que deixa de lado o excesso de consumismo que só nos prejudica.
Um Natal angolano, mais leve, mais real, mais nosso, sem corre rias, sem ansiedade, sem pânico. E se não tiveres condição, não gaste nada, poupe, vá a igreja, reze e faça o teu Natal com o aniversariante principal. Há vida para além de dezembro, não se stressa-
Por: OSVALDO FUAKATINUA









