O interesse dos cidadãos pela política vai sendo notório. Já é possível observar-se em qualquer esquina indivíduos que, mesmo de forma desavisada, esgrimem os seus pontos de vista sobre os partidos políticos, as suas acções, a oposição e, como não poderia deixar de ser, os actos de governação. É visível que muitos nem sequer conhecem as linhas gerais dos partidos que dizem defender, nem tão pouco os seus programas ou estatutos.
O mesmo se pode dizer em relação às ideologias das próprias organizações, onde os pronunciamentos dos seus dirigentes muitas das vezes chocam com aquilo que um dia defenderam como divisa. Hoje, sem quaisquer pruridos, não se sabe quem é de esquerda, direita, centro-esquerda, extrema-esquerda ou mesmo do centro em Angola. E não admira sequer, embora se possa observar nos seus estatutos e programas as suas escolhas ideológicas, estas organizações nem sequer se dão ao trabalho de conferir se respeitam ou não aquilo que juridicamente apregoam.
Nos dias que correm, mais do que ideias, o que se vai observando é uma espécie de democracia que assenta mais na demagogia do que no respeito às diferenças. Um pressuposto que, se se tivesse levado em conta, permitiria que alguns reconhecessem e respeitassem a opinião e a escolha de outros.
À medida que o tempo avança, torna-se assustador observar-se que existe um certo grupo que não é sequer capaz de inculcar nas suas memórias que a todos lhes é de direito poder escolher o partido que lhes convém, assim como defender as suas teses. Por exemplo, é ponto assente que de um lado existe uma oposição que há cerca de 50 anos luta para conquistar o poder.
É lícito, igualmente, que auspicie um dia chegar ao topo, acreditando-se que nesta fase só deve ser possível por meios legais, entre os quais a ida às urnas e a obtenção do maior número de votos durante um processo eleitoral. De igual modo, também é expectável que exista um outro grupo que, independentemente do tempo no poder, tencione continuar a dirigir o país, ciente das suas crenças e daquilo que ao longo dos anos foi fazendo para a melhoria das condições de vida dos angolanos.
É assustadora a maneira como alguns pretendem até impedir que os outros sonhem muito mais. E o pior é que este tipo de pensamento vem de quem se apresenta como pseudodemocratas ou ainda como uma espécie de ilusionistas com as soluções para aquilo que o futuro nos guarda. Distante do conhecimento político que muitos parecem exibir está a aceitação de que cada um deve – e muito bem – efectuar as suas escolhas.
E que seja com base num ambiente de discussão salutar que se possa aferir quem de facto está ou não em melhores condições de poder garantir que a sua opção seja a mais viável. É doentia – e até mesmo perigosa – a forma como determinados segmentos julgam que é, impondo o medo que fará com que outros se mantenham distantes dos seus desígnios.
É preciso regular os gabinetes de ódios instalados. Muitos dos integrantes destes grupos, disseminados entre o interior e o exterior, já não escondem sequer até que ponto pretendem fazer valer a ambição de atingirem lugares mais elevados, nem que para tal se rasgue a Constituição do país. E quando se apregoam mensagens de alteração política longe do que é o normal, não estamos muito distantes disso.









