Longe dos holofotes, depois de largos anos ligado ao serviço público, muitos serão talvez aqueles que se perguntam o que andará a fazer o embaixador reformado Mawete João Baptista? Para muitos que com ele trilharam, alguns na diplomacia ou no Executivo, a esta hora o ideal seria andar pelas Europas da vida gastando o que se conseguiu durante muitos anos.
No sábado, na sequência do Fórum de Negócios e Conectividade, organizado pela MediaNova, encontramos o ancião de 80 anos, mas cada vez mais ágil, mergulhado num dos projectos agroturísticos e académicos que ergueu na sua terra natal: o Uíge. Trata-se de um projecto imponente, a ser erguido em várias fases, possuindo no seu entorno a criação de peixe, produção de hortaliças e cereais.
Sem descurar ainda a parte turística, com um hotel e uma universidade com cursos apenas técnicos, que tenciona ver inaugurado nos próximos dois anos.
Num país em que muitos que, inicialmente, estiveram ligados à política procuram escudar-se em laranjas ou ainda transferir responsabilidades a outros, com medo de um julgamento público por parte da sociedade, a vontade de Mawete João Baptista e o seu empenho demonstram o homem que hoje procura ainda querer dar muito ao país que o viu nascer, mesmo às portas de completar 81 anos em Janeiro.
É vê-lo a explicar tudo quanto os visitantes encantados puderam apreciar. E da sua boca perceber que, além daquilo que é dado a ver, está empenhado noutros projectos agrícolas e turísticos noutras partes da província do Uíge, terra em que vai enterrar o seu cordão umbilical.
Quando o avistamos – já exaustos de tanto andar e percorrer a Vila Mawete – recuei no tempo e lembrei-me de um estudo recente que dizia que em Angola existem mais de 2.500 milionários, ou seja, indivíduos que têm mais de um milhão de dólares nas suas contas.
Perguntei aos meus botões o que é que cada um destes supostos milionários tem feito para o país que os viu nascer? Se muitos destes ricos pudessem um dia ver o que fez este político, antigo combatente, que já foi governador de Cabinda e do Uíge, certamente ficaria envergonhado.
Longe de querer uma reforma dourada noutros mundos, o homem vai proporcionando emprego, produzindo alimentação, desde os produtos mais básicos, como hortaliças, fuba de milho, lunguila, hidromel, aos mais complexos, como os alevinos.
Mais do que capital, necessário para quem opte por projectos do género, só o amor pelo país e pelas localidades que nos viu nascer é que fazem com que se invista também, como o faz Mawete João Baptista no Uíge e, talvez, noutros pontos de Angola.