As recentes manifestações e episódios de violência urbana que abalaram a cidade de Luanda constituem um momento importante de reflexão colectiva para todos os angolanos.
Embora tenham ocorrido com episódios de pilhagem e destruição, que devem ser firmemente condenados, esses acontecimentos revelam também a vitalidade de uma sociedade em busca de respostas e reformas.
Longe de ser apenas um desafio de segurança, tratase de um alerta social e político que convoca todos — governo, instituições, sociedade civil e comunidade internacional — a construir novas pontes de entendimento e coesão nacional.
I. Entender para Agir: As Raízes do Descontentamento
Não é possível gerir eficazmente uma crise sem compreender suas causas profundas. O descontentamento expresso nas ruas de Luanda tem várias origens legítimas: A juventude urbana enfrenta crescentes dificuldades de acesso ao emprego, habitação digna e educação de qualidade.
A urbanização acelerada de Luanda, aliada à complexidade dos processos de inclusão social, tem gerado tensões nas franjas mais vulneráveis da sociedade. Após décadas de reconstrução nacional e crescimento económico, grande parte da população — especialmente os jovens — espera por mais oportunidades, maior participação e justiça social.
Trata-se de uma geração conectada, informada e exigente, com legítimos anseios por progresso. Embora Angola tenha registado avanços consideráveis no campo das liberdades civis, há ainda margem para fortalecer o diálogo social e institucional, incluindo o direito à manifestação pacífica e a liberdade de imprensa.
II. O Papel das Forças de Defesa e Segurança (FDS): Protecção, Contenção e Reconstrução da Confiança As Forças de Defesa e Segurança enfrentaram, em Luanda, um dos mais complexos testes de gestão de distúrbios em zonas urbanas desde o período pós-guerra.
Ainda que tenham existido episódios críticos, importa sublinhar. As FDS actuaram com prontidão para impedir que os focos de violência se alastrassem a outras regiões da cidade ou ganhassem contornos incontroláveis.
A presença nas ruas, embora tensa, serviu para garantir a integridade de infraestruturas essenciais e proteger vidas. Em várias zonas, houve relatos de actuação irresponsável, com uso desproporcional da força. Isso demonstra que embora haja, no seio das FDS, quadros comprometidos com a legalidade e os princípios da ordem democrática, há ainda muito trabalho a fazer.
A complexidade das manifestações exige investimento contínuo em formação de tropas em mediação de conflitos, direitos humanos e policiamento comunitário. Este é um desafio institucional, mas também uma oportunidade para o Estado modernizar as suas forças.
III. Impactos e Oportunidades: O Que Luanda nos Ensina?
As manifestações lembram-nos que a paz não é apenas a ausência de guerra, mas também a presença de justiça social. É preciso garantir que o desenvolvimento económico se traduza em melhoria efectiva das condições de vida para todos, especialmente nos bairros periféricos. A resposta à crise deve passar por mais abertura ao diálogo, escuta activa das preocupações populares e transparência na acção governativa. O Estado democrático é aquele que ouve, responde e se reinventa perante os desafios.
A juventude angolana tem mostrado força, criatividade e vontade de mudar. Ao invés de ser vista como ameaça, deve ser reconhecida como parceira essencial na construção do futuro. Isso passa por políticas públicas inclusivas, programas de emprego, acesso a crédito e educação de qualidade.
IV. Caminhos de Reconciliação e Esperança
É tempo de institucionalizar fóruns regulares de diálogo entre governo, sociedade civil, líderes religiosos, académicos e juventude. O diálogo não deve surgir apenas em momentos de crise, mas como cultura permanente de governação participativa. As reformas económicas, fiscais e administrativas devem ser sensíveis à realidade do cidadão comum.
A justiça social deve estar no centro do planeamento estratégico nacional, para que ninguém se sinta excluído. As Forças de Defesa e Segurança são parte do povo. O seu papel não é apenas manter a ordem, mas também proteger direitos e garantir segurança com dignidade. Investir na sua formação, motivação e integração comunitária é investir na paz.
Conclusão: Angola Não Está a Falhar – Está a Aprender
Os acontecimentos de Luanda, por mais perturbadores que tenham sido, não devem ser vistos como sinal de colapso, mas como oportunidade de renovação. São dores de crescimento de uma sociedade que quer mais: mais justiça, mais inclusão, mais escuta e mais dignidade.
A resposta a esta fase deve ser feita com firmeza, sim — mas também com empatia, visão estratégica e espírito de reconciliação. A Angola do futuro não se constrói com repressão, nem com revolta. Constrói-se com visão partilhada, coragem institucional e diálogo entre todos os filhos da Nação.
Por: ALEXANDRE CHIVALE