Propusemo-nos a a revisitar a obra, Espontaneidades da Minha Alma, de José da Silva Maia Ferreira à luz da leitura sociolinguística. Importa, desde já, italisar que o presente texto é parte da comunicação prevista para o dia 27 de junho de 2025, em Luanda, na Academia Diplomática Venâncio de Moura, no âmbito das comemorações do seu centenário.
Sendo uma obra que inaugura o marco livresco da literatura “angolana”, entende-se aqui, como o imaginário de todo um conjunto sensorial, cognitivo, perceptivo e simbólico, a nossa predisposição argumentativa fundamenta-se como vector de divulgação da sua produção literária, neste sentido de José da Silva Maia Ferreira, que se desenvolve entre a tenue fronteira da sintaxe do imaginário e do concreto que se materializa por meio da linguagem.
O prisma da nossa abordagem prende-se sob o escopo da sociolinguística por entendermos, por meio da leitura analítica, que a língua é também factor de inclusão social, de manifestação cultural, de expressão, de sentido, de afirmação sociocultural.
Não é por acaso que o professor Francisco Soares não estanca as relações entre literatura e linguagem e as relações entre literatura e sociedade, pois, assiste-se esta relação dialéctica no poema “ o meu credo”.
Neste sentido, apela Kristeva que “a linguagem é simultaneamente o único modo de ser do pensamento, a sua realidade e a sua realização” (1969, pp.19,20). Assim, ler José da Silva Maia Ferreira implica, necessariamente, contacto com a história livresca de Angola, a sua obra permite o aflorar sobre a problematização em torno da língua como suporte textual neste dialogismo tridimensional entre o pensamento, a fala e os traços etnolinguísticos.
Dito isto, a partir de seus textos, que se consubstanciam em objecto de leitura cognitiva, fizemos recurso às correntes da linguística moderna. Ferdinand de Saussure acentua a linguística como sendo a ciência que estuda a linguagem. Logo, as manifestações inerentes à linguagem metafórica perfazem o nosso campo de abordagem.
A partir do título, “ Espontaneidades da Minha Alma – Às Senhoras Africanas”, recorremos à fala semântica do professor Francisco Soares que realça sobre a funcionalidade da sensibilidade do artista, sua estrutura racional, isto se resume na capacidade em lidar com os problemas, ora, é fundamental tendo em conta que se trabalha com e para o vasto tecido de leitores reativos e não só.
Nesta senda, fundamentamos sob as lentes da Teoria de Efeito de Wolfgang, intelectual alemão, que adendamos para sustentar a nossa tese valorativa da relação sistémica entre a textualidade e a linguagem, neste caso à luz da sociolinguística, na construção da metáfora em acto.
A relação ontológica bidimensional entre a palavra, neste caso, a linguagem estética e a consciência poética, no circuito da literatura em Espontaneidades da Minha Alma, sustentam atemporalidade e a mobilidade texto-geográfica mesmo que se verifique uma construção sintática e semântica distante do imaginário linguístico angolano. Sublinha Silbermann “ O facto literário pode ser também um facto sociológico” (1973, p.53) Logo, a língua sob o prisma da função da sociologia da literatura não se circunscreve apenas como forma de mera comunicação, mas também como meio de manifestação sociológica, de expressão do ser, do devir e do contínuo meio de existir.
Aproveitamos para subscrever o pensamento de Escarpit quando categoriza que “Na literatura, a palavra é vencedora do tempo e do espaço” (1973, p.46). Por exemplo, assiste-se em “Carlinda”, poema que atravessa os tempos, que estabelece diálogo fronteiriço sociolinguístico, que lida com as diferentes dimensões cognitivas, o elevado sentido perfomântico em que também subjaz o perfume da lírica afunilada, o desespero, aflição, o mais profundo vazio da retórica existencial e, sobretudo, denota-se o distanciamento na língua como partícula identitária.
Em Espontaneidades da Minha Alma de José da Silva Maia Ferreira, por meio de uma leitura de contacto a percepção é objectiva, pois, a leitura plurissignificativa abre diversas dimensões interpretativas, assim, aferimos que a sua produção metafórica se posicona entre o sentido e a substancialidade lírica que desemboca numa linguagem que na perspectiva da sociolinguística fica entre a singularidade da fala e os traços comuns caracterizadores identitários, portanto, percebemos por conta do contexto dualista em que emerge a obra e o escritor.
Entendemos que a sua expansão, sua divulgação, seus estudos, permitirá maior compreensão do fenómeno sociolinguístico e literário, por exemplo do imaginário ficcional, ideal ou concreto, para avaliar-se a funcionalidade relacional entre a língua e a literatura.
Embora a sua perfomance sociolinguística levanta suspeições, pode-se assistir efeito catártico, na sua obra, em Às Minhas Compatriotas, Porque podes duvidar!, Beleza sem Amor!, Amo o Silêncio da Noite. A sua obra relaciona-se com os diferentes períodos da literatura angolana.
Também estabelece um diálogo intergeracional, contextual e no campo da originalidade e da autenticidade predispõe-se como objecto de crítica literária. Não terminamos, apenas ficamos por aqui!
Por: HAMILTON ARTES