Sempre acreditei que Angola só alcançará maturidade desportiva quando entender que o verdadeiro ponto de partida não está nas selecções principais nem nas academias de elite, está na escola. No intervalo das aulas, onde se improvisa uma baliza com mochilas, no salto de ginástica dado com medo e riso ao mesmo tempo, no jogo de andebol onde o professor é também árbitro, motivador e psicólogo.
É ali que tudo começa. É por isso que ver a fase final da 13ª edição dos Jogos Nacionais Escolares arrancar em Luanda, com cerca de 1.500 jovens entre os 12 e os 16 anos, reacende em mim uma esperança antiga. Não se trata apenas de um evento desportivo, trata-se de um gesto político, cultural e humano, também um investimento no corpo, na mente e no futuro.
A prática desportiva exige mais do que fôlego, requer visão de jogo, leitura rápida e decisões sob pressão. Exige que se pense, e isso é formação cognitiva pura. O campo é a sala de aula, a equipa é a extensão da família, e o treinador é uma espécie de professor de matemática emocional.
O desporto escolar tem essa força, educa sem precisar de umquadro e giz. Ver modalidades como andebol, basquetebol, futebol, voleibol, ginástica, atletismo (convencional e adaptado) e xadrez num mesmo evento diz muito.
Diz que se quer amplitude, que se reconhece que o talento não veste apenas um só equipamento. E mais, diz que o país está disposto a dar palco a todos, inclusive aos que normalmente não têm voz nem vez. Mas tudo isso só fará sentido se houver continuidade. Não adianta fazer bonito uma vez por ano. O desporto escolar tem de ser política pública com orçamento e planificação.
É ali que vamos formar os futuros atletas, mas, acima de tudo, é ali que se forma o cidadão exemplar. Que este seja um torneio e um sinal de uma aposta séria no desporto escolar. Porque o verdadeiro campeão não nasce na alta competição, começa na escola, e Angola, se quiser vencer, tem de começar por aí.
Por: Luís Caetano