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Ilídio Machado: o nacionalista resgatado da sombra pelo Presidente João Lourenço

Paulo Sérgio por Paulo Sérgio
3 de Outubro, 2025
Em Opinião
Tempo de Leitura: 6 mins de leitura
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Os movimentos de libertação nacional têm os seus códigos e, muitas vezes, também os seus “dogmas” históricos. Ao longo do tempo, porém, esses dogmas vão sendo desmistificados, e com eles emergem nomes de figuras que, por razões diversas, ficaram relegadas ao silêncio ou ao esquecimento.

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É nesse processo de resgate da memória que algumas personalidades regressam ao lugar que lhes pertence na história, para que as gerações presentes e futuras possam reconhecer-lhes o valor, respeitar-lhes o legado e, quem sabe, inspirar-se nos seus feitos.

Esse movimento de revisitação da história não é exclusivo de Angola. Mas foi no nosso país que, em Setembro de 2018, no discurso de tomada de posse após a sua eleição para presidente do MPLA, João Lourenço surpreendeu muitos ao evocar um nome pouco ouvido até então: Ilídio Tomé Alves Machado.

Fê-lo de forma simbólica e carregada de sentido, apresentando-o aos militantes e à juventude angolana como o primeiro presidente do partido e como alguém que deveria ocupar lugar de destaque na galeria dos fundadores do MPLA.

O anúncio arrancou uma salva de palmas dos delegados ao VI Congresso Extraordinário do MPLA, mesmo entre aqueles que, naquele instante, desconheciam por completo o percurso histórico da figura evocada. João Lourenço assumia-se assim como quinto presidente do partido, depois de Ilídio Machado, Mário Pinto de Andrade, Agostinho Neto e José Eduardo dos Santos, corrigindo, em público, um esquecimento de décadas.

A partir daí, cresceu a curiosidade em torno de Ilídio Machado, nome que, até então, aparecia apenas em notas de rodapé ao lado de Matias Miguéis, sem o peso dos mais citados, designadamente, Mário Pinto de Andrade, Agostinho Neto, Lúcio Lara, o padre Joaquim Pinto de Andrade e de Viriato da Cruz (este último poderá ser tema da próxima crónica).

Mantendo de lado as suspeições levantadas por académicos sobre a data da fundação do MPLA, a nossa abordagem centra-se no envolvimento político deste nacionalista.

Deste modo, partimos do princípio de que o seu surgimento está associado ao “amplo movimento”, a que faz referência o Manifesto de 1956, elaborado por Viriato da Cruz, aos 27 anos, de que foram consignatários diversas personalidades, entre as quais, Ilídio Machado.

Mas quem foi, afinal, este homem que a história parecia ter deixado à margem? Nascido em Luanda, em 1914, Ilídio foi funcionário dos Correios, mas cedo se destacou como um dos rostos mais dinâmicos do nacionalismo angolano. Influenciado pela literatura marxista que recebia por correspondência de Portugal e do Brasil, fundou, em 1955, ao lado de Viriato da Cruz, o Partido Comunista Angolano (PCA), e esteve igualmente ligado ao PLUAA (Partido de Luta Unida dos Africanos de Angola) e ao Movimento para a Independência de Angola (MIA).

Daí que Lúcio Lara, no seu livro “Um Amplo Movimento”, não só coloca Ilídio Machado como um dos fundadores do MPLA, na qualidade de membro do seu então comité director, como também todos aqueles que, na clandestinidade em Luanda e em Lisboa, ou nas masmorras das prisões da PIDE, tinham, os primeiros, sabido traduzir em actos concretos de luta contra o sistema colonial a mensagem do aludido manifesto.

Porém, segundo este autor, Ilídio não fez parte da equipa que fez a estruturação do MPLA, tendo como base tal manifesto, por se encontrar privado da liberdade em Tarrafal. Foi também por meio dele que alguns dos materiais de suporte ideológico marxista chegavam a diversos nacionalistas residentes em Luanda, uma vez que o seu irmão mais novo, Humberto Machado, a quem apoiava financeiramente os estudos em Agronomia em Lisboa, os enviava sempre que possível.

O seu irmão acabou também por ser uma peça fundamental para que Ilídio mantivesse contactos estreitos com nacionalistas de diversos países africanos residentes naquela cidade europeia, mesmo estando em Luanda e sob a mira da PIDE.

Para o efeito, contou também com a colaboração de Agostinho Neto e Lúcio Lara. Expandiu a sua rede de contacto ao antigo Congo Brazzaville, onde se encontrava o seu companheiro de trincheira Matias Miguéis, bem como outros guerrilheiros sediados no Ghana e no Brasil.

Nestes últimos dois casos, contou com o apoio do seu amigo cubano naturalizado americano, Lawrence Holden, que era tripulante do navio “African Glenn”, que também viria a ser preso pela PIDE, em 1959, por prestar apoio aos jovens “revolucionários” angolanos. Aos 34 anos, era considerado um dos mais dinâmicos e promotores do nacionalismo angolano, tendo em conta que, já antes, fazia parte do movimento dos “Novos Intelectuais de Angola”.

Após a saída de Viriato da Cruz de Luanda, Ilídio assumiu a missão de, em parceria com Franco de Sousa e Higino Aires, dirigir o clandestino Movimento para a Independência de Angola (MIA). Era um intelectual inquieto e acreditava que a dispersão de organizações e de grupo enfraquecia a luta, criando a possibilidade de a PIDE infiltrar os seus agentes.

Tentou convencer os seus correligionários das outras organizações a criarem um único movimento, que receberia o nome de Movimento de Libertação Nacional de Angola (MLNA). Acreditando nisso, fez sair um panfleto em que anunciava a fusão dos movimentos nacionalistas MIA e do Movimento de Libertação Nacional (MLN). Essa ousadia o colocou ainda mais sob o olhar vigilante da PIDE.

A rede de contactos de Ilídio ia muito além de Luanda. Contava com o apoio do irmão Humberto Machado, estudante em Lisboa, que, por meio do Clube Marítimo Africano, ajudava a fazer circular ideias e livros entre Angola, Guiné e Portugal. Estabeleceu laços com nacionalistas em Brazzaville, no Gana e até no Brasil, sempre na busca de apoios sólidos para a luta. Mas, em 27 de Maio de 1959, a sua trajectória sofreu um golpe decisivo: foi preso em Lisboa, julgado e condenado, acabando desterrado no campo de concentração do Tarrafal, em Cabo Verde.

A sua ausência forçada abriu caminho para que o seu companheiro Mário Pinto de Andrade assumisse temporariamente a direcção da organização. Por essa razão, conforme atesta Edmundo Rocha, na obra Angola: Contribuição ao Estado do Nascimento do Nacionalismo Moderno Angolano, Volume II, o primeiro organigrama do MPLA, elaborado em Conakry, em 1960, colocou Mário Pinto de Andrade como presidente em exercício e Agostinho Neto como presidente de honra.

Libertado apenas em 1970, Ilídio viveu o suficiente para testemunhar, cinco anos depois, o sonho maior da sua geração: a independência de Angola. Apesar de não ter deixado livros nem manifestos da sua autoria, as cartas enviadas ao irmão revelam um homem profundamente ligado ao destino da sua terra e ao imperativo de elevar o nível cultural e político dos angolanos. O historiador Edmundo Rocha descreveu-o, no Volume I da obra acima mencionada, como um intelectual de prestígio, activo na Liga Nacional Africana e um dos que ecoou a palavra de ordem: “Vamos descobrir Angola.”

Ilídio Machado morreu em 28 de Agosto de 1983. Partiu discretamente, como viveu, sem a notoriedade de outros companheiros de luta. Mas o seu nome, resgatado décadas depois, devolve-nos a lembrança de que a independência foi também obra de homens que, mesmo no silêncio da história, deixaram marcas profundas na construção da Nação.

Por: PAULO SÉRGIO

*Jornalista

Paulo Sérgio

Paulo Sérgio

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