A Língua Portuguesa é bastante estudada no Brasil e em Portugal. Angola, depois do Brasil, é o segundo país com mais falantes do Português a nível mundial, porém ainda depende das gramáticas das duas nações em destaque, porque não tem independência linguística.
Acredita-se que, na terra de Agostinho Neto, ter-se-ia usado o português europeu nas escolas, porquanto Angola era uma província de Portugal; portanto, seguia as políticas linguísticas de lá.
Hoje, com a sua independência, não se sabe ao certo se depende linguisticamente do Brasil ou de Portugal. Esta inquietação é devido à introdução de gramáticas brasileiras nas suas instituições de ensino, o que faz com que haja duas nomenclaturas no ensino da Língua Portuguesa; por conseguinte, o Português tem sido considerado difícil por muitos angolanos.
A mistura da Gramática Portuguesa com a Gramática Brasileira no ensino da Língua Portuguesa, em Angola, faz com que estudar a língua de Camões seja uma tarefa desafiadora e sem rumo, não havendo diferença com o ir atrás do vento.
A Língua Portuguesa está desnorteada em Angola; por isso, alguns professores de Língua Portuguesa usam a Nomenclatura Gramatical Portuguesa (NGP) de 1967, visto que o país foi colonizado por Portugal e não ratificou o Novo Acordo Ortográfico de 1990; outros usam a Nomenclatura Gramatical Brasileira (NGB) de 1959, pois há mais facilidade em ter gramáticas deste território que de Portugal, e a maioria faz uma mistura.
Em testes de acesso a universidades, em admissões de concursos públicos ou privados, os candidatos, devido ao desnorteamento da Língua Portuguesa, ainda fazem confusão com coisas básicas, como, por exemplo, a divisão silábica correcta entre «es-pé-ci-e» e «espé-cie».
Na NGB, as duas divisões estão correctas, pois os encontros vocálicos átonos finais (ia, ie, io, ua, ue, uo) são tidos como hiatos e ditongos ao mesmo tempo.
Contudo, na NGP, são tidos como ditongos crescentes; logo, a divisão silábica correcta é a última. Além desta confusão, há outras que têm a ver com a classificação das orações.
Notemos que, na NGB, uma oração subordinada substantiva introduzida por conjunção integrante recebe várias designações, tendo em conta a função sintáctica que desempenha. Exemplos:
• Oração subordinada substantiva subjectiva, se funcionar como sujeito. •Oração subordinada substantiva objectiva directa, se funcionar como complemento directo.
Na NGP, não importa qual seja a função sintáctica da oração subordinada substantiva introduzida por uma conjunção integrante: ela é chamada apenas de oração subordinada substantiva completiva.
Onde está o problema se Angola depende linguisticamente de Portugal? O problema é que tanto a gramática brasileira quanto a portuguesa são usadas em Angola.
Elas apresentam várias divergências, fazendo com que não haja uniformidade total nos conteúdos e, em momentos de testes, alguns exercícios são retirados de sites brasileiros, com respostas aprovadas pela NGB; outros, de sites portugueses, com respostas aprovadas pela NGP.
Os avaliados não fazem ideia se respondem segundo a NGP ou NGB. Para um ensino de qualidade da Língua Portuguesa e melhor desempenho em testes, o ideal é que o Ministério da Educação de Angola tenha uma gramática de referência, seja brasileira ou portuguesa.
Deve ter um documento aprovando uma ou outra nomenclatura. Com isso, evitar-se-ão as confusões apresentadas e as que não foram mencionadas aqui, mas são reais e dificultam a compreensão da Língua Portuguesa em Angola.
Por: TITÁBIAS TADEU
* (Gramaticógrafo e professor de Língua Portuguesa)