Nunca conheci o Francis Sanders. Nem sei se um dia o vá ver, perto ou longe, no mínimo pessoalmente. Mas já li o seu livro – que acredito ser um dos maiores sucessos– ‘Quem pagou a conta – A CIA na guerra cultural’, uma obra que devesse ser obrigatória para muitos, sobretudo nas sociedades africanas e também nos países em vias de desenvolvimento.
Não se trata de uma das maiores referências mundiais a nível da escrita, mas a obra em questão é uma das que levanta com maior precisão a influência que determinados grupos jogam em missões que visavam à desestabilização de estados.
Longe de políticos comuns, Sanders traz à liça o envolvimento de sectores até então, para muitos, tido como pacífico e incapaz de se aliar a grupos nem desejos aparentemente desalinhados daqueles perseguidos pelos homens e mulheres que disputam a conquista de poder nas urnas.
Alguns por intermédio de forças internas e outros externas, são vários os mecanismos utilizados para que jovens, que constituem a força motriz de países, dêem o corpo ao manifesto em desejos que julgam ser somente seus, quando por trás existem outros cujos objectivos passam pelo controlo do poder noutros moldes.
Durante anos, em África, América Latina, Ásia e noutros continentes, contou-se, exclusivamente, com a utilização de escritores, autores, actores, jornalistas e outros profissionais que não só levavam a mensagem, como até integravam os grupos que se faziam passar por organizações não governamentais, associações filantrópicas e outras para fazerem destes os seus meros peões.
Mudaram-se os tempos, mudaram-se claramente os actores. Em épocas de redes sociais, em que muitas das vezes a realidade, a verdade e outras situações que deveriam merecer destaque, nasceu de forma estonteante a figura dos influencers que acabam por congregar no seu seio uma fornalha de jovens de várias índoles.
Entre intelectuais, analfabetos, semi-analfabetos, capazes de mobilizar sectores consideráveis, sobretudo naqueles países em que as instituições são frágeis, vivem de apoios externos, estão geopoliticamente em áreas estratégicas ou são ricas em recursos minerais.
A primavera árabe, cujos efeitos negativos são maiores que os positivos, criando até hoje uma onda de horrores no Médio Oriente, foi uma via usada com recursos em meios militares, hoje criticados devido à instabilidade provocada no mundo.
Nos últimos dias, um novo movimento, a chamada Geração Z, vai-se mobilizando no sentido de afastar líderes eleitos, alguns dos quais com uma margem folgada. Só que aqui a arma são as redes sociais e nas queais supostamente Tony Blair e George Bush se escudaram para ameaçar uma série de países, muitos dos quais viram os seus presidentes assassinados.
Há hoje,entre nós, quem vai olhando para o Nepal,Quénia, Marrocos, países cujos governos acabaram eleitos, como bons exemplos por conta de um grupo de jovens ter saído à rua para protestar, agredir ou até mesmo incendiar bens por conta do não cumprimento das políticas para a educação, saúde, empregos e combate àcorrupção.
E não estranha se depois alguns destes líderes ou influencers venham dizer, no futuro, que foram somente autênticos peões de gente mais graúda e que define o mundo distante dos Facebook, WhatsApp, Thinder ou noutras plataformas. Aí, sim, saberão quem deverá pagar a conta.