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FOCAC 2025: A nova estação da cooperação sino-africana

Jornal OPaís por Jornal OPaís
25 de Julho, 2025
Em Opinião
Tempo de Leitura: 5 mins de leitura
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FOCAC 2025: A nova estação da cooperação sino-africana

Há momentos na história em que os grandes ciclos da geopolítica revelam-se em gestos discretos, decisões técnicas ou encontros diplomáticos que, a princípio, parecem rotineiros.

O encontro de Changsha em 2025, no âmbito do FOCAC, não foi um mero exercício diplomático entre a China e os países africanos. Foi, antes, a proclamação de um novo tempo. Uma viragem, não apenas de rota, mas de horizonte.

A política internacional, tantas vezes marcada por discursos de promessas não cumpridas, aqui apresentou dados, compromissos e realizações com um sentido de urgência e consistência raramente vistos nas parcerias tradicionais com outros Estados.

À primeira vista, os números saltam: US$ 295,6 milhões de comércio sino-africano em 2024, com crescimento contínuo em 2025; a eliminação total de tarifas para os 53 países africanos com relações diplomáticas com a China; cinco novas zonas industriais sino-africanas e a previsão de criação de um milhão de empregos técnicos até 2027.

Mas estes números, ainda que impressionantes, não dizem tudo. São apenas a superfície visível de um modelo de cooperação que se distingue pelo que entrega e pela forma como respeita.

O internacionalista chinês Yan Xuetong já afirmava que “a moralidade de uma liderança global não está em como ela se impõe, mas em como ela colabora”. Esta máxima ganha corpo nas dinâmicas entre a China e o continente africano.

Diferente das abordagens eurocêntricas que tentam reenquadrar a África num modelo civilizacional externo, a China opera sob um princípio confucionista: o da harmonia sem uniformidade.

Ou seja, a diferença é respeitada, e a parceria se dá entre iguais, não entre tutores e tutelados. Compare-se este paradigma com o que oferecem os países ocidentais.

A Iniciativa Global Gateway da União Europeia ou a Parceria para Infraestruturas e Investimentos Globais (PGII) do G7 prometeram cifras vultosas, mas até hoje entregaram menos de US$ 1,2 mil milhões em projetos concretos no continente africano, sobretudo em sectores de visibilidade estratégica, como o Corredor do Lobito ou iniciativas de energia solar. Em contraste, o FOCAC 2025 não apenas prometeu: executou.

Linhas de crédito foram abertas, seguros viabilizados, tarifas eliminadas, obras lançadas. E tudo isso com um detalhe fundamental: sem condicionalismos políticos, sem exigência de reformas neoliberais impostas, sem ingerência sobre a soberania dos Estados africanos.

Esta diferença de abordagem é teórica e prática. Enquanto o Ocidente ainda se ancora na matriz da interdependência complexa proposta por Keohane e Nye, onde os fluxos de poder e influência circulam com assimetrias evidentes, a China opera sob uma lógica inspirada na ideia de Tianxia (天 ), um mundo de convivência plural e multipolar, onde cada civilização contribui com a sua própria dignidade para o concerto das nações. Mas não se trata apenas de uma diferença de concepção filosófica. O modelo chinês entrega. E entrega de forma estruturada.

A eliminação de tarifas para todos os países africanos, inclusive os de rendimento médio, é inédita. Permite que produtos como café etíope, cacau ganês, peixe angolano e carne bovina namibiana entrem na China com competitividade real, que superam as amarras que caracterizam o AGOA norteamericano ou os acordos de parceria económica com a União Europeia, muitas vezes revistos, travados por quotas, e sujeitos a lobbies internos dos países desenvolvidos.

Por outro lado, a presença da China em infraestruturas tem um impacto de longo prazo. Os cinco parques industriais sino-africanos são apenas o início de uma lógica que aposta na industrialização do continente, e não na sua perpetuação como exportador de matéria-prima.

A China, aqui, age conforme o que Immanuel Wallerstein teorizou sobre os centros e periferias da economia-mundo. Ao contrário do sistema ocidental que tende a manter a África na periferia do capital global, a China propõe deslocar parte do seu centro produtivo para o Sul Global, para criar novos polos autônomos de crescimento. É neste sentido que o modelo chinês se destaca também pela coerência monetária.

A aposta em swaps cambiais com o yuan, a integração com o AfCFTA e os pagamentos internos sem recorrer ao dólar representam um passo decisivo para a autonomia financeira africana. Enquanto os mecanismos ocidentais ainda impõem o euro ou o dólar como únicos intermediários de comércio, a China ensaia, com o apoio africano, uma desdolarização prática que pode dar nova musculatura às economias locais.

Mas talvez o mais revolucionário esteja no investimento humano. A previsão de criar um milhão de empregos técnicos até 2027, com base nos Luban Workshops e nos centros de formação prática espalhados pelo continente.

A juventude africana não precisa de mais bolsas de elite para universidades europeias; precisa de oportunidades técnicas e industriais que transformem seu talento em valor económico dentro das suas próprias fronteiras. Como escreveu o ministro das Relações Exteriores da China Wang Yi, “África não é um continente a ser ajudado. É um continente com quem construir o futuro”.

Esta frase, mais do que uma fórmula retórica, ecoa nas decisões pragmáticas de Beijing. E, neste sentido, Angola é peça-chave. Com a sua vocação energética, agrícola e logística, e com projetos como o Corredor do Lobito a ganhar vida com apoio chinês e ocidental, Angola se torna uma arena onde os modelos se confrontam. E até aqui, o modelo chinês tem se mostrado mais eficiente, menos conflituoso, mais produtivo.

Não se trata, evidentemente, de ignorar as complexidades ou os desafios dessa parceria. A China não é isenta de interesses, e os riscos de endividamento ou dependência são reais se não forem geridos com inteligência por parte dos Estados africanos.

Mas o ponto aqui não é idealizar, e sim nos atentarmos aos factos, uma vez que, entre uma parceria que entrega estrutura, respeito e oportunidades, e outra que promete reformas, impõe condições e entrega paliativos, a escolha se impõe.

O FOCAC 2025 não é um evento isolado. É uma estação de passagem para um tempo novo. Um tempo em que África, com a China, pode construir o seu próprio caminho de desenvolvimento, com base nos seus próprios valores, recursos e juventude. Um tempo em que a cooperação internacional deixe de ser sinónimo de caridade para se tornar sinónimo de soberania partilhada.

E se, como dizia Kwame Nkrumah, “a independência política sem independência económica é uma ilusão”, então o que o FOCAC propõe é precisamente isso: tornar real a independência económica do continente africano. Um continente que já não aceita ser periferia passiva do mundo, mas quer ser centro activo de decisões, de produção e de futuro.

Por: EDMUNDO GUNZA

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