Quatro da manhã. O metal das medalhas ainda brilha na memória, mas é o silêncio que pesa. Entre palmas e protocolos, ergue-se uma pergunta tão antiga como Roma: estamos a tornarnos especialistas no que conta — ou apenas no que distrai? A noite desarma o ruído. Sem câmaras nem discursos, percebemos que o essencial não é o palco, é o propósito. As distinções honram percursos, mas não substituem carácter, disciplina e serviço. A esta hora, o País mede-se não pelos aplausos recebidos, mas pela qualidade das nossas decisões íntimas e colectivas.
“É mais proveitoso fazer as contas da nossa vida do que as do trigo do Estado.” A advertência de Séneca não é contra o dever público, mas contra a dispersão fútil. Podemos saber tudo sobre trivialidades e nada sobre sentido. Angola — jovem, impaciente, criativa — precisa de gente perita em construir futuro, não apenas em comentar o presente.
A condecoração do Coronel Guilherme Lopes dos Santos, ex-técnico de voo que integrou a tripulação do Antonov-26 responsável por transportar o Fundador da Nação a Kinshasa, em 1978, é mais do que memória.
É método. É prova de que especialista é quem se prepara, serve e cumpre, mesmo quando ninguém aplaude. Este nome ilustra um valor que Angola precisa resgatar: competência ao serviço da Pátria, rigor técnico e coragem silenciosa.
É história, mas, sobretudo, é lição para o presente. Também a sociedade civil e a imprensa responsável têm lugar de honra. Jornalistas como Dani Costa e tantos outros de mérito recordam-nos que contar bem a história é parte da construção nacional.
O Jornal OPAÍS, ao registar a cerimónia com sobriedade e detalhe, não apenas informou — educou. Mostrou que comunicar com rigor é também servir à Pátria, pois dá dimensão ao feito e projecção ao exemplo. No desporto e na juventude, vemos com nitidez a diferença entre ruído e obra.
Ser especialista aqui não é acumular troféus, é transformar talento em sistema: treinar milhares, não apenas destacar alguns; profissionalizar calendários e patrocínios; ligar clubes, escolas e comunidades em políticas sustentáveis; medir impacto e prestar contas. Menos breaking news, mais making news.
Cinco lições práticas para o País
1. Escolha um problema e case-se com ele. Um por vez, durante anos.
2. Estudo diário. Sessenta minutos de leitura técnica valem mais que seis horas de “scroll”.
3. Sistemas, não heróis. Processos replicáveis vencem improvisos.
4. Resultados públicos. Transparência educa e atrai aliados.
5. Serviço concreto. Um bairro, uma escola, um clube — comece já. As condecorações celebram o ontem. A madrugada cobra o amanhã. O exemplo do Coronel Guilherme Lopes dos Santos lembra-nos que cada um pode — e deve — ser especialista no que quer, desde que esse “aquilo” seja digno do nosso tempo e da nossa gente.
Ao Presidente da República, à Comissão de Condecorações, à sociedade civil e aos leitores de dentro e de fora de Angola, este texto é uma homenagem e um desafio: façamos da especialização no que importa a nova medalha da Nação.
Por: EDGAR LEANDRO