Aproclamação da independência de Angola, em 1975, marcou o início de profundas transformações no ensino superior, reflectindo os desafios e conquistas do país. Esta reflexão analisa a evolução do sector ao longo de 50 anos, destacando os seus progressos, obstáculos enfrentados e apontando caminhos para o futuro.
Evolução Histórica
Durante o período colonial, o acesso ao ensino superior era fortemente restrito. Os primeiros cursos surgiram na década de 1960, com a criação dos Estudos Gerais Universitários de Angola, que deram origem à Universidade de Luanda.
Após a independência, o Governo angolano passou a priorizar a expansão do ensino superior como instrumento fundamental para a formação de quadros nacionais.
As décadas de 1980 e 1990 foram marcadas pelo conflito armado, que afectou profundamente todos os sectores, incluindo a educação. Ainda assim, novas instituições foram sendo criadas.
Com o fim da guerra em 2002, assistiu-se a um novo impulso, centrado na descentralização e expansão do ensino superior, com a criação de universidades públicas e privadas em várias províncias do país.
Estado Actual
Actualmente, Angola dispõe de uma rede diversificada de instituições de ensino superior, incluindo universidades públicas, institutos politécnicos e instituições privadas. A expansão quantitativa é notória, reflectindo-se no aumento de matrículas, cursos e cobertura geográfica.
Contudo, persistem desafios significativos:
Qualidade: escassez de docentes qualificados, baixa produção científica e infra-estruturas deficientes; Governança: deficiências na gestão, com falta de transparência e eficiência; Articulação com o mercado de trabalho: currículos desajustados face às necessidades económicas e sociais actuais.
Iniciativas como o SINAQES (Sistema Nacional de Avaliação, Acreditação e Garantia da Qualidade do Ensino Superior) e parcerias internacionais visam elevar os padrões de qualidade, embora os avanços ainda sejam limitados e desiguais.
Perspectivas Futuras
Para se consolidar um ensino superior robusto e sustentável, impõem-se várias medidas estruturais: Investimento na qualidade: formação e valorização do corpo docente, reforço da investigação científica e modernização das infra-estruturas; Internacionalização: estabelecimento de parcerias estratégicas com universidades estrangeiras, promovendo a mobilidade académica e a partilha de boas práticas; Relevância curricular:
revisão e actualização dos programas formativos, de modo a alinhá-los com as exigências do mercado de trabalho e com os desafios da economia global; Digitalização: adopção de tecnologias de ensino, com recurso a plataformas digitais e sistemas híbridos de aprendizagem, para aumentar o acesso e melhorar a qualidade pedagógica.
Conclusão
Em cinco décadas, Angola registou avanços significativos na expansão do ensino superior. No entanto, a qualidade continua a ser o maior desafio estrutural.
O futuro do sector exige compromisso político, investimentos estratégicos e inovação contínua, com vista à consolidação de um sistema inclusivo, moderno e alinhado aos objectivos de desenvolvimento sustentável. A educação superior deve assumir-se como motor de transformação social, progresso económico e coesão nacional.
Por: FELICIANO VERÍSSIMO