Aprender e ensinar são dois processos naturais da existência humana, dons e heranças dos quais ninguém jamais poderá fugir. Para Fernández (1998), o processo de ensino-aprendizagem, embora inerente à existência humana, tem sido historicamente caracterizado de muitas formas e maneiras, sendo muito difícil, portanto, resumi-lo a um único conceito. Deste modo, é lógico que não seja possível categorizá-lo numa visão conceptual unitária.
Assim, Freitas (s/d) propõe que, tal como os behavioristas sugerem, se quisermos alcançar uma melhor compreensão deste fenómeno, precisamos, antes de mais, ter como referencial “a própria definição do que é ensinar e aprender.” Para Libâneo (1994), o ensino é um processo em que se tem em vista a potencialização do outro por meio de um conjunto de métodos e técnicas específicas realizadas por um tutor.
Ensinar “é a actividade que tem por finalidade que o outro obtenha o conhecimento.” (Freitas, s/d). Deste modo, o processo de ensino não se resume a uma mera transmissão de informações, mas a uma acção que, por meio de técnicas e métodos premeditados, visa potencializar o outro.
Assim, é precisamente descrita a diferenciação existente entre um professor e um jornalista, sendo que o último tem por propósito e missão transmitir informações claras e explícitas, que cheguem nitidamente aos ouvidos do receptor, com a finalidade de o manter actualizado sobre determinados factos ou acontecimentos. Por outro lado, a missão do docente é explicitamente a de potencializar o receptor — o aluno — através do emprego de um conjunto de métodos.
É daí que, para Freitas (s/d), o professor deve ter plena noção do seu papel como mediador dos alunos, ou seja, ele seria uma espécie de canal ou ponte de passagem entre o conhecimento e o aluno. Deste modo, importa referir que, enquanto este mecanismo — a passagem do conhecimento — não ocorrer, não estará ainda concluído o processo de ensino.
Daí que Freitas (s/d) argumenta: “O acto de ensinar não pode ser percebido como algo mecânico e, portanto, que não necessita de reajustes constantes. A forma de ensinar, os meios utilizados e a forma de avaliação devem passar por um processo que permita que a aprendizagem seja realmente alcançada.” (Freitas, s/d, p. 1). Considerando assim, fica claro que a ênfase neste processo recai sobre o aluno, e não sobre o docente, visto que o professor, enquanto mediador, é obrigado a criar um conjunto de condicionantes práticas — técnicas — que se adequem ao seu aluno e possibilitem o aprendizado.
O que é aprender?
O processo de aprendizagem é a aquisição e modificação relativamente permanente na compreensão, conhecimentos, habilidades, atitudes, informação e competências, através da experiência. Assim, a aprendizagem pode ser avaliada com base no que os alunos dizem, escrevem e fazem, e envolve mudança de comportamento (Martínez, 2013).
Deste modo, é possível observar que o processo de aprendizagem está maioritariamente ligado à modificação e à transformação do homem. Compreende mais do que a memorização: envolve a capacitação do aluno, o que ele faz, ou torna-se capaz de fazer, com aquilo que recebe.
É assim que, para Fernández (1998), ao analisarmos a situação actual da prática educativa nas nossas escolas, identificamos problemas, como a grande ênfase dada à memorização e a pouca preocupação com o desenvolvimento de habilidades para a reflexão crítica e auto-crítica dos conhecimentos que se aprendem. Adiante, o processo de transformação ou aperfeiçoamento deste ser — o aluno — deve ser centralizado nele, e não no seu mediador, o professor.
Daí que Fernández reforça, em tom crítico, que, na situação actual da prática educativa em nossas escolas, infelizmente, “as acções ainda são centradas nos professores, que determinam o que e como deve ser aprendido, e na separação entre educação e instrução.” (Fernández, 1998). Portanto, embora Libâneo (1994) possa considerar o aprender como “o processo de assimilação de qualquer forma de conhecimento”, não podemos resumir essa assimilação como mera teorização de informações, mas sim, como aponta Freitas (s/d), a “todo um processo de assimilação em que o aluno, com a orientação do professor, passa a compreender, reflectir e aplicar os conhecimentos que foram obtidos.”
Conclusão
Enfim, é precisamente isto que é ensinar e aprender: dois processos interdependentes e complementares, em que o docente assume o papel de mediador e o aluno o de protagonista da construção do próprio conhecimento.
Por: SAMPAIO HERCULANO