Um dos maiores produtores de petróleo do continente africano, Angola possui um défice ao nível da produção dos derivados deste produto, uma situação que tem contribuído, inúmeras vezes, para a escassez e o encarecimento da gasolina, gasóleo e até petróleo iluminante.
Apesar do estatuto de que goza no mundo, é ainda incompreensível o escasso investimento que se realizou ao nível da refinação de petróleo, o que obriga o Executivo angolano a adquiri-lo no mercado internacional, para depois o vender internamente a um preço módico — facto que reacende, até aos nossos dias, a problemática da subvenção do preço dos combustíveis.
Aliás, estamos recordados dos actos de vandalismo dos dias 27 e 29 de Julho passado, que tiveram como mote o aumento do preço do combustível, consubstanciado na retirada gradual dos subsídios.
Se, por um lado, havia pouco investimento na criação de refinarias no país, confinado durante anos à refinaria de Luanda (cuja capacidade aumentou recentemente), por outro lado, a aquisição de gasolina, gasóleo e outros refinados transformou-se num negócio chorudo, que enriqueceu significativamente uma elite que hoje se orgulha milionária.
Em sentido contrário, obrigaram-se os cidadãos, nos variados sectores, a ter de adquirir o produto com base em preços especulativos, encarecendo também os preços dos produtos ou serviços que dependem deste tipo de energia.
Há muito que angola clamava pela entrada em cena de novas refinarias que pudessem travar ou atenuar parcialmente o gasto de 1,7 mil milhões de dólares que são despendidos para atender às necessidades. E a refinaria de Cabinda, por sinal a primeira a ser construída 50 anos depois da independência do país, vem começar a colmatar esse défice existente.
Fruto de uma parceria público-privada entre a Sonangol (empresa pública) e a gemcorp (investidor privado), a refinaria de Cabinda foi concebida para processar 60.000 barris por dia, em fases sucessivas, mas a sua primeira fase, cujo ciclo começa hoje com a inauguração pelo presidente da República, João Lourenço, assegura uma capacidade inicial de 30.000 barris/dia. as informações disponibilizadas dão conta de que serão produzidos, inicialmente, gasóleo, querosene de aviação (Jet a1), fuelóleo pesado e nafta.
Em relação à produção de gasolina, o que se sabe é que este produto, muito utilizado e procurado, será produzido numa fase posterior, já em andamento, apesar dos contratempos observados durante o período inicial, como a pandemia da Covid-19 e as graves perturbações nas cadeias globais de fornecimento.
Quando, hoje, o presidente cortar a fita e se der por inaugurada a refinaria de Cabinda, que se diz poder suprir um terço das necessidades internas, o país passará a poupar divisas que podem ser aplicadas noutros sectores vitais.
E fica a garantia de que, nos próximos três meses, os cidadãos angolanos, mormente os que estão estacionados na rica província de Cabinda, contarão já com combustível refinado na própria localidade. para os próximos tempos, vislumbram-se dias ainda melhores, se se tiver em conta que estão igualmente em curso outras refinarias, entre as quais as do lobito e Soyo.
Aos poucos, angola vai encurtando a dependência que tinha em relação à refinação de petróleo, que alguns, até mesmo em tempos de vacas gordas, não julgavam essencial — o que deu azo ao enriquecimento de um grupo que se aproveitou — e muito bem — deste vazio.