A dois anos da realização das eleições gerais, os indicadores que vão sendo apresentados apontam já para a existência de uma oposição fragmentada para a ida às urnas.
Quem, há alguns anos, viu o nascimento da não legalizada Frente Patriótica Unida (FPU) — em que figuravam a UNITA, enquanto líder da oposição, o Bloco Democrático e o projecto político PRA-JA Servir Angola — não acreditaria que, nos dias de hoje, o ambiente fosse de bastante crispação.
Se, por um lado, era sabido que dificilmente se partiria para uma coligação reconhecida legalmente, por outro, também era praticamente visível que os egos das figuras preponderantes da UNITA e do agora reconhecido PRA- JA permitiriam que se mantivesse a unanimidade que falsamente se vendia naquela fase.
Desde muito, estava fora de hipótese uma ida às urnas em que os maninhos pudessem abdicar dos seus símbolos e correr com outros, conforme se exigiu pelos integrantes — um dos motivos que vem sendo apontado como estando também na base da erupção que ocorreu no interior da referida frente.
O reconhecimento do PRA-JA, que parecia não estar nas cogitações de muitos, fez com que a sua liderança, sem quaisquer pruridos nem receios, sentisse a necessidade de poder também correr a solo nas próximas eleições. Trata-se de uma decisão que se deveria respeitar, inclusive pelos adversários políticos, tanto do partido no poder como também das demais forças da oposição.
Curiosamente, embora surja como aspirante ao poder, não é por parte dos camaradas que o PRA-JA Servir Angola vai sendo severamente cutucado, quase que diariamente, mas sim da própria oposição, com algumas figuras de proa da própria UNITA a liderarem tal processo.
Provavelmente — embora não se admita — a saída de determinadas personalidades da UNITA, entre as quais filhos do líder fundador Jonas Savimbi, tenha feito mossa no interior do partido, que viu recentemente um dos seus mais destacados quadros na diáspora, Jardo Muekalia, a juntar-se a Abel Chivukuvuku e companhia.
Se se pode menosprezar opiniões vindas de militantes intermédios, o mesmo não se pode fazer em relação a escritos e pronunciamentos de políticos, alguns dos quais jovens que ambicionam dirigir os destinos do maior partido da oposição, virados para os responsáveis do PRA-JA e as acções que estes vão desenvolvendo.
Como toda a acção gera uma reacção, já se observa do outro lado — isto é, dos liderados por Chivukuvuku — a decisão de não levar desaforo para casa, o que faz com que se acirrem as desavenças e, claramente, se exponham na praça pública situações que até então deveriam ser analisadas com maiores responsabilidades.
Embora seja acossado por críticas quanto à gestão do país e à necessidade da melhoria das condições de vida dos angolanos, o MPLA está sentado na poltrona, assistindo ao desaguisado que se vive entre aqueles que acreditam ser os seus maiores adversários, quando, na verdade, tudo vai indicando que, para o próximo pleito, parece que a batalha será mais entre a própria oposição em si e não entre esta e o partido no governo.
E o estalar do verniz entre a UNITA e o PRA-JA é um exemplo claro de que, em 2027, afastada que está a frente única, vislumbra-se um forte confronto político entre estas duas agremiações.
O facto de muitos dos seus dirigentes terem sido formados na mesma escola e conhecerem-se mutuamente é um ingrediente para não se perder as cenas dos próximos capítulos.









