A tragédia ocorrida esta quarta-feira na Serra da Leba, entre as províncias da Huíla e do Namibe, deve ser uma das maiores ocorridas no país em termos de sinistralidade rodoviária.
Um camião desgovernado acabou por embater num autocarro, retirando a vida a mais de 20 pessoas, entre homens e mulheres. Não ficaria de modo algum constrangido se se decretasse luto no país, tendo em conta a dimensão do estrago provocado.
E há vozes que já vão apelando neste sentido, antes mesmo de qualquer iniciativa política. São vários os sonhos destruídos, os órfãos deixados e incertezas lançadas, cujas causas poderão estar agora a nível da falha técnica ou falta de condições do carro que provocou o embate inicial.
Não será de estranhar, igualmente, se depois de apresentarem outras razões, algumas das quais aliadas, por exemplo, ao estado da própria via, mas esta hipótese ganha cada vez menos consistência.
Entretanto, com os estragos já causados, irreparáveis, como as vidas humanas, os questionamentos que se vão fazendo correm em torno da capacidade de assistência dos serviços de protecção civil e bombeiros em termos de meios que permitiriam num ápice retirar os feridos para hospitais na Huíla ou no Namibe.
Não obstante os valores que se apresentam para as forças de defesa e segurança, anualmente, através do Orçamento Geral de Estado, é visível em muitas circunstâncias o défice de meios que muitas das áreas ligadas ao sector ainda apresentam. Vezes houve, no passado, em que, por exemplo, simples incêndios não foram dominados por conta dos equipamentos velhos e ineficazes que poderiam ter socorrido algumas situações.
O mesmo se pode dizer em relação ao Instituto Nacional de Emergências Médicas (INEMA), muito concentrado a nível da capital do país, com uma presença ainda não tão significativa em toda a extensão do território, que lhe permitiria a todo o tempo atender as urgências que surgissem.
Acidentes como os da Leba levam-nos, igualmente, a reflectir sobre o destino que se deu aos destacamentos de prevenção à sinistralidade rodoviária que se previa colocar nas principais estradas nacionais e atender urgências como as que ensanguentaram e enlutaram os populares do Namibe e da Huíla.
Quando lançados, estas unidades ainda presentes, mais infra-estruturas já degradadas do que meios, permitiriam que ocorrências semelhantes encontrassem respaldo por parte dos homens aí destacados, entre polícias, médicos e não só.
Quem passa pelos destacamentos da Munenga, no Cuanza-Sul, Lobito, em Benguela, e até o do Morro Binda recorda, com nostalgia, os sonhos que foram vendidos num passado não tão distante. Mas, hoje, é possível recuperá-los e dar-lhes a utilidade necessária, sobretudo num país como o nosso em que os acidentes de viação só não matam mais do que a malária.