Foi lendo ‘O Fim da Extrema Esquerda em Angola’, de Margarida Paredes, que me pude aperceber das façanhas de alguns políticos angolanos, sobretudo aqueles que se mantêm na mesma posição, apesar do tempo no activismo político, comumente conhecidos por revolucionários, ou seja, pelo diminutivo ‘revu’.
É numa das suas páginas que se dá a conhecer, por exemplo, quem me parece ter sido o primeiro encarcerado que optou por fazer uma greve de fome para protestar as condições a que havia sido submetido.
Os anos passam, embora tivesse recuado noutro tempo, mas a verdade é que, a cada dia que passa, permite perceber que, se possível fosse, houvesse uma divisão entre os activistas de primeira, segunda, e quiçá de terceira ou quarta.
Tal como ocorre com os próprios direitos fundamentais, não seria qualquer sacrilégio se se pudesse estratificar naipe de defensores de direitos humanos, políticos e sociais que se apresentam na sociedade.
Claro está que muitos estão distantes das façanhas protagonizadas por aqueles retratados por Margarida Paredes, alguns dos quais deram corpo à Organização Comunista de Angola (OCA), depois a Frente para a Democracia (FpD) e, mais recentemente, o Bloco Democrático.
É comum observar alguns, mais de 50 anos depois, verticais. Defensores dos mesmos posicionamentos, não sucumbindo sequer aos vários acenos nem tão pouco a privilégios. O mesmo não se pode dizer em relação a um outro conjunto de revolucionários ou devia que se parecem mais sofisticados.
Entre estes, por ironia do destino, estão muitos dos que anteriormente gozavam de privilégios, agiam como abastados, mas o corte de privilégios trouxe-lhes a uma realidade científica que até então pareciam desconhecer. Até parece estranho, mas não. É a realidade e vamos aceitando.
Mais de 20 anos depois do alcance da paz – e muitos terem ocupado cargos de relevância a nível do Estado – dava até a impressão de que nem sequer o domínio da língua tinham devido ao silêncio sepulcral em que se haviam submetido.
Não sei se por vontade própria – ou pressionados – é impossível hoje acreditar que nem sequer opinião tivessem sobre os vários aspectos da vida social, política, económica e não só.Hoje o fazem por vários meios.
Desde participação em debates, criação de podcasts, artigos de opinião, entrevistas em vários órgãos, felizmente se pode perceber que, se calhar, para muitos, como disse um dia Jonas Savimbi, ‘anteriormente não convinha’.
Como revus confessos, nos dias que correm, muito sofisticados, acabam hoje por merecer as honras de uma maioria que nos parece incapaz de divisar os novos tempos que se vivem.
Ou então havia cobardia e menos liberdade no tempo da outra senhora, que não lhes permitia sequer tossir, ou estaremos a viver um período de alguma bonança em termos de direitos e deveres, em que cada um se pode expressar desde que respeite os direitos dos demais.