Nunca fez tanto sentido a frase ‘tão amigos que eles eram’ com o que vamos assistindo agora na oposição política no país, depois de largos anos de pseudonamoro entre alguns dos líderes dos principais partidos políticos.
Há poucos meses, quase que em sintonia, era vê-los lado a lado, sobretudo após o anúncio feito numa reunião ocorrida em Viana, num projecto empresarial de um político da UNITA que também já preferiu abandonar o barco. E há pouco tempo decidiu transplantar-se em parlamentar independente.
O terminado congresso do PRA-JA Servir Angola, que confirmou Abel Chivukuvuku como o líder desta formação política recém-criada, acabou por servir de combustível para uma relação que se pensava forte, mas os indícios apontam ter sido construída sobre alicerces de barro.
Antes mesmo da sua realização, era visível na imprensa, convencional e nas redes sociais, posicionamentos vários de políticos da própria oposição que não escondiam o descontentamento pelo facto de ter surgido essa agremiação, sobretudo por ter à cabeça um dos que se apresentava como sendo o sustentáculo para a criação, finalmente, de uma coligação que pudesse enfrentar o MPLA nas eleições de 2027.
O que se diz é que as portas ainda estão abertas para um possível diálogo que os leve a este ponto. Mas os sinais são evidentes, hoje os consensos parecem mais distantes e as fendas que se vão abrindo são mais profundas do que se poderia prever há pouco tempo.
Não seria de modo algum um certo exagero se se dissesse, por exemplo, que a morte da propalada Frente Patriótica Unida é quase certa. Faltará, nesta fase, tal- vez, selar-se o caixão com pregos de chumbo e enterrar a pretensão que, à partida, muitos já avançavam de que dificilmente daria certo.
E quem escutou ontem o discurso do líder do PRA- JA Servir Angola, no final do conclave, concluirá que, mais do que o verniz estalado, os caminhos na oposição indicam para uma corrida a solo dos seus líderes, assentes nos programas das suas organizações, embora haja quem não descarte a questão dos egos.
Longe dos ataques que, regularmente, se fazem ao MPLA de supostas ingerências, as divergências têm outras causas e distantes de supostas mãos que possam vir de outros lados. E algumas tiradas do então dirigente da UNITA, que também já passou pela CASA-CE, foram conclusivas.
‘Nossos irmãos dos partidos da oposição, não tenham medo do PRA-JA. Não tenham inveja do PRA-JA. Nós somos os kandengues, do ponto de vista legal e institucional da política angolana. Eles são mais velhos, estão lá há muito tempo. Mas fizeram o quê?”. Não é preciso um grande exercício mental para se perceber os reais destinatários de tais considerações.