A primeira vez em que pisei os pés no Campus Universitário da Universidade Agostinho Neto já leva mais de 10 anos. Foi durante a cerimónia de outorga dos estudantes licenciados, entre os quais estava um dos meus manos mais novos, que se licenciara em Matemática, para muitos um autêntico quebra-cabeças.
Lembro-me de, na ocasião, o então ministro do Ensino Superior, Adão do Nascimento, ter chamado a atenção dos presentes para o facto de se estar a registar uma redução significativa de licenciados em cursos ligados às ciências exactas. Havia, já naquela fase, uma maior predisposição de muitos estudantes para as outras áreas, sobretudo naquelas em que as disciplinas em causa fugissem das temíveis matemática, física e química.
Por isso, não espantou que há pouco tempo tivessem surgido pelo país inteiro uma plêiade de universidades quase todas viradas para a formação em áreas distantes das ciências exactas. Sendo estas, indiscutivelmente, as que formaram parte considerável dos jovens licenciados nos últimos anos, muitos dos quais, neste momento, se encontram a braços com o desemprego. O Ministério do Ensino Superior, no passado, decidiu descontinuar vários cursos e até encerrar alguns cujas instituições tiveram uma avaliação negativa.
A medida foi extensiva às universidades públicas e até privadas, tudo em busca de uma melhor formação para atender de forma qualitativa às necessidades do mercado. O encerramento não agradou a muitos.
A retirada de cursos mais teóricos acabou por levantar uma certa discussão nos meios académicos e não só, porque, mesmo que existam necessidades primárias, não é prudente que se acabe em determinadas instituições com cursos como os de filosofia, pedagogia, como se viu. Vários anos depois daquela cerimónia de outorga, hoje começa a ficar cada vez mais visível o hiato que existe em termos de quadros a nível das ciências exactas.
São poucos. E isso é indiscutível. Na terça-feira, por exemplo, o Instituto Nacional de Estatísticas (INE) apresentou alguns dados sobre as empresas angolanas que regularmente apresentam os seus dados ao público. Curiosamente, num país em que existem milhares de empresas, algumas delas até conceituadas, só duas ou três instituições foram referenciadas como sendo as que apresentam os seus relatórios aos cidadãos.
Entre as que prestam esse serviço, deixando claro o que ocorre em termos numéricos, estará o próprio Instituto Nacional de Estatística (INE), por razões óbvias – caso contrário, seria um escândalo – e o Banco Nacional de Angola (BNA). Claro que existem outras que procedem do mesmo modo, mas, ainda assim, fica evidente que a relação da maioria com os números e as estatísticas é difícil e, praticamente, inexistente.
Não creio que seja só uma questão de esconder os números, uma prática que ocorre há anos em muitas empresas estrangeiras e as angolanas não são excepção, mas também porque não devem existir quadros suficientes para a demanda em determinados períodos do ano. E, claro, que com isso fica mais do que provado que o divórcio com as ciências exactas, nos últimos tempos, vai já mostrando as suas consequências, que podem estar evidentes em muitos relatórios duvidosos que nos chegam às mãos quase todos os dias.