Alguém perguntava há dias por que razão terá existido um pequeno desaguisado entre as autoridades angolanas e a liderança golpista no Gabão, país que durante largos anos foi governado pela família Bongo. Inicialmente, o pai, o malogrado Omar Bongo, e posteriormente o filho, Ali Bongo, hoje praticamente debilitado.
Na altura, como seria de esperar de um país normal, apostado na edificação do Estado de Direito e Democrático, Angola não poderia compactuar com a tomada de poder num país assente em princípios que não passassem por um escrutínio universal.
Aliás, essa ideia ficou patente durante as intervenções das autoridades angolanas, solicitando, inclusive, que se observassem estas exigências e que se passasse o poder aos civis. Ultrapassadas estas contingências, era obrigatório que as relações entre os dois países se restabelecessem, à semelhança do que sempre ocorreu no passado, quando os dois estados eram até dirigidos por figuras distintas das actuais.
Em Angola, com o Presidente João Lourenço à frente dos destinos da União Africana, certamente que o seu homólogo Brici Oligui tenha visto na presença do líder angolano no seu país como a cereja no topo do bolo a nível do reconhecimento e a afirmação que este espera no continente e, sobretudo, no seio dos estadistas mais influentes neste momento.
Mais do que os negócios que existirão entre os Estados, ressalvados nos protocolos de cooperação rubricados entre as autoridades angolanas e gabonesas, existem outras nuances neste relacionamento que não podem nunca ser des- curadas. Embora diminuta, existe uma diáspora angolana também no Gabão e cidadãos deste país em Angola.
Porém, a visita do Presidente angolano ao Gabão, a convite do seu homólogo, acabou por ser ainda mais significativa devido ao toque de Midas que o estadista angolano teve na soltura e regresso de cidadãos nacionais ao país que se encontravam a cumprir pena de prisão neste país.
É comum as pessoas equacionarem os resultados das deslocações do Presidente ao exterior. Muitas destas viagens assentam igualmente naquilo a que se denominou chamar diplomacia económica ao mais alto nível, mas cujos resultados acabam por ser mais demorados do que o previsto.
Alguns deles acabam por chegar meses ou anos depois de se remover os empecilhos próprios de investimentos avultados. No caso do Gabão, independentemente do que se possa esperar dos acordos e do futuro da cooperação com Angola, um dos resultados visíveis em menos de 24 horas terá sido, seguramente, a restituição à liberdade dos sete pescadores que rumaram directamente a Cabinda.
E não é em vão que os próprios, depois de chegados à terra natal, se dignaram a agradecer à intervenção de João Lourenço neste capítulo.