Em duas ocasiões, nos últimos três meses, decidimos radiografar a vida dos lotadores, formados por jovens até então estacionados nas principais paragens das cidades para ajudarem a chamar passageiros para os táxis.
Uma actividade que durante anos estava destinada aos cobradores, tidos por muitos como ajudantes dos taxistas, os lotadores surgiram como que figuras independentes que passaram a amealhar também dos proventos obtidos por aqueles que se dedicam a transportar pessoas em carros particulares.
Em Luanda, por exemplo, é comum vê-los aí onde há um grande aglomerado de pessoas, sobretudo nos horários de ponta. Transformaram-se, num curto espaço de tempo, em organizações temidas, não havendo quem chegasse a uma determinada paragem que não efectuasse o pagamento depois destes terem ou não influenciado os passageiros a entrarem nas viaturas Toyota Hiace ou outros.
Quase que de forma consentida, à semelhança do que se vai observando também com aquilo a que se designa chamar staffs, os lotadores foram aos poucos se mostrando poderosos e donos das placas, muitas das vezes com o beneplácito das forças da ordem que quase que cruzam os braços em determinados territórios.
O descaso a que muitos eram submetidos e a necessidade destes se impuserem, por conta da escassez de postos de trabalho que ainda se faz sentir no país, tornou-se, ciclicamente, combustível para que este grupo se cimentasse no transporte de passageiros em que estes jovens nem sequer eram tidos e achados.
Verdade é que muitos deles transformaram a lotação numa alternativa para o ganha-pão, com lucros absurdos, que podiam rondar os mais de 10 mil kwanzas/dia. Mas outros fizeram das paragens de táxis e outras verdadeiros terrores, elevando a desorganização do próprio trânsito, assim como acções delituosas em relação aos passageiros e, sobretudo, aos motoristas que se recusam a colaborar.
É aos jovens que se está também a imputar em determinados círculos responsabilidades pelas arruaças e actos de vandalismo verificados durante aquela que se esperava ser uma paralisação de taxistas na capital do país. Por isso, segundo se diz, as suas placas vão sendo desmanteladas por efectivos da Polícia Nacional, uma acção que vai sendo aplaudida por muitos, incluindo os próprios taxistas.
Para muitos, o facto de ser uma actividade que muitas das vezes cria convulsões entre os taxistas e os próprios lotadores, a medida chegou em boa hora.
Porém, vários anos depois e com o exército de lotadores ter crescido de forma exponencial – mesmo sendo um ramo praticamente inexistente do ponto de vista oficial – é imperioso que se crie uma via que permita que muitos destes jovens em idade activa, capazes para acudir o país em vários segmentos, possam encontrar as suas reais vocações com apoio das administrações municipais, assim como os centros de formação profissional que ainda existem em muitos bairros de Luanda e nas demais províncias.
Caso contrário, até porque muitos deles já gozam de má fama, não nos espantemos se um dia os víssemos a constar das listas de infelizes mergulhados na criminalidade que ainda vai encontrando terreno entre nós.